13/05/2014 18h27

A conclusão é dos oficiais da PM que participaram de audiência pública realizada na Câmara Municipal, promovida pelo vereador Hélio Godoy (PSD), com a participação de representantes da sociedade

 

O crescimento de ocorrências policiais em Sorocaba – como homicídios, roubos, assaltos, fechamento de avenidas, veículos incendiados, assaltos a caixas eletrônicos, culminando com o assassinato de um policial – foi objeto de debate no plenário da Câmara Municipal de Sorocaba, durante audiência pública promovida pelo vereador Helio Godoy (PSD) na tarde de terça-feira, 13. A audiência contou com a presença do tenente-coronel Marcos Antônio Ramos, comandante do 7º Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I); major Carlos Alexandre de Melo, coordenador operacional do 7º Batalhão de Polícia Militar do Interior (7º BPM-I); Benedito Zanin, comandante da Guarda Civil Municipal; capitão Ubiratan Marques, que também desenvolve trabalhos de prevenção ao uso de drogas; e José Roberto Rosa, coordenador da Pastoral do Menor de Sorocaba.

 

O comandante Marcos Antonio Ramos apresentou um vídeo mostrando a atividade da Polícia Militar em Sorocaba e trouxe dados sobre a criminalidade no município. Em 2013, ocorreram 59 homicídios na cidade, enquanto, em 2014, apenas nos quatro primeiros meses do ano, já ocorreram 40 homicídios. Ainda segundo os dados da PM, 50% dos crimes são praticados por pessoas que já foram presas. Por outro lado, apenas 20% dos crimes levam à prisão, enquanto 80% permanecem impunes. O comandante enfatizou o empenho da Polícia Militar em garantir a segurança pública e classificou como “agressão à própria sociedade” o assassinato recente do soldado Sandro Luiz Gomes, acrescentando que esse crime deve merecer o repúdio de todos.

 

O comandante da PM também discorreu sobre as dificuldades da polícia. Segundo ele, 90% das chamadas do serviço telefônico 190 não possuem qualquer relação com o trabalho da PM. Outro problema é a escolta de presos, que deveria ser realizada por serviços de segurança das próprias penitenciárias. “Esse não é um trabalho da Polícia Militar, mas, como alguém tem que fazê-lo, nós recebemos essa missão, o que atrapalha o policiamento da cidade, pois a viatura e os policiais ficam ocupados com a escolta do preso”, afirmou o oficial. O comandante foi enfático: “Estamos com uma grande demanda criminal perpetrada por pessoas que já foram presas, mas que, por um ou outro motivo, a Justiça não conseguiu mantê-las encarceradas. Muitos reincidentes estão cometendo roubos, furtos e homicídios”, enfatizou.

 

Trabalho preventivo – O major Carlos Alexandre Melo também discorreu sobre a atuação da PM, enfocando o trabalho preventivo desenvolvido pela corporação. “A falta de valores das famílias e a impunidade dos criminosos são dois grandes problemas que a sociedade enfrenta hoje”, afirmou o major. Mas fez questão de ressaltar que as estatísticas mostram uma queda da criminalidade na cidade: segundo ele, nós últimos quinze anos, houve uma redução de 70% no número de homicídios e 15% no número de roubos na cidade. Todavia, segundo o major, o sensacionalismo da imprensa contribui para aumentar a sensação de impunidade.

 

Para Carlos Alexandre Mello, é preciso resgatar valores e valorizar o trabalho e o trabalhador, como forma de prevenir a criminalidade. O major também observou que muitos problemas só se tornam problemas policiais, como os “rolezinhos”, porque a família se omite. “O que estão fazendo os pais que deixam um adolescente na rua à meia-noite, como ocorreu recentemente com um rolezinho no Campolim?”, indagou o policial.

 

Já o capitão Ubiratan Marques afirmou que “a família, a escola e a igreja são as bases da sociedade”. E, depois de realçar a importância que do trabalho na formação do jovem, acrescentou: “Tudo mundo quer uma viatura na sua rua e isso é ótimo, pois significa que a população confia em nosso trabalho, mas a segurança pública deve ser uma preocupação de todos. Quando falta a base social, como a família, o trabalho, os valores morais, sobra para a polícia”.

 

Escola de Pais – Quem também enfatizou a importância do trabalho na formação do caráter foi Milton Hernandes Moreno, da Escola de Pais do Brasil. Em que pese ter ajudado a elaborar o Estatuto da Criança e do Adolescente, ele afirmou que, na época, decidiu-se proibir o trabalho do menor, mas pensando numa escola de tempo integral, que não se concretizou. Com isso, segundo ele, o menor ficou ocioso, sendo seduzido para o mundo do crime. Milton Moreno foi taxativo: “A criminalidade aumentou depois da aprovação do ECA. O Estatuto proibiu o trabalho do menor e deixou o menor ocioso”.

 

Já o comandante da Guarda Municipal, Benedito Zanin, declarou-se solidário com os colegas da PM em virtude da morte do soldado Sérgio Gomes e fez questão de registrar que, em Sorocaba, a Polícia Militar e a Guarda Municipal trabalham em harmonia. Por sua vez, o coordenador da Pastoral do Menor afirmou que, quando começou a trabalhar com menores, o principal problema era a fome. “Hoje, o problema é a droga e, por trás dela, a falta de valores”, enfatizou.

 

José Rosa também afirmou que mais de 70% dos internos da Fundação Casa, com quem a Pastoral do Menor trabalha, estão internados por causa do crack. Segundo ele, a família não está conseguindo ter acesso ao menor. E deu um exemplo: quando estavam ocorrendo roubos de cargas de trem em Sorocaba, descobrimos, por conta de conversas entre os próprios menores, que havia menores atendidos pela Pastoral participando dos saques. “Estamos vivendo um vácuo: a lei torna o ensino obrigatório, mas não tem vaga nas escolas”, observou.

 

No encerramento dos trabalhos, por volta das 17h45, o vereador Helio Godoy realçou o trabalho desenvolvido pela Polícia Militar, pela Guarda Municipal e pelas demais entidades representadas na audiência pública e ressaltou o consenso que prevaleceu entre os presentes de que é preciso resgatar valores, sobretudo a família.