26/05/2014 13h15
 

O professor Aldo Vannucchi, o ex-vereador Oswaldo Noce, e o ex-ferroviário Chico Gomes falaram sobre suas experiências como militantes políticos durante a Ditadura Militar.

 

Durante a primeira oitiva da Comissão Municipal da Verdade “Alexandre Vannucchi Leme”, realizada na manhã desta segunda-feira, 26, na Câmara Municipal de Sorocaba foram ouvidos três personagens ligados ao regime militar (1964 a 1985). Foram ouvidos o professor Aldo Vannucchi, o ex-vereador Oswaldo Noce, o ex-ferroviário sorocabano e militante da ALN Francisco Gomes, o Chico Gomes.

 

O presidente da comissão, Izídio de Brito (PT), o relator Anselmo Neto (PP), e o membro, Saulo do Afro Arts (PRP), participaram da oitiva, além do vereador Marinho Marte (PPS). A vereadora Neusa Maldonado (PSDB) é o terceiro membro da Comissão da Verdade. O psicanalista e professor de filosofia Daniel Lopes e a advogada Nalva Pazetti, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça (MJ), também participaram da oitiva.

 

Na próxima segunda-feira, 2, a partir das 9 horas, serão ouvidos pela Comissão da Verdade o professor de história Miguel Trujillo e o historiador e jornalista Geraldo Bonadio. Os depoimentos serão gravados, arquivados e entregues junto com o material final para a Comissão Nacional da Verdade. Os resultados também serão disponibilizados a instituições interessadas na história da região durante regime militar.

 

Depoimentos: O primeiro relato foi do professor Aldo Vannucchi. Preso em 5 de abril de 1964, o professor foi libertado com a condição de continuar detido por outros 10 dias detidos no seminário diocesano. Vannucchi leu uma carta da igreja lamentando sua prisão e expressando sua solidariedade, além de cobrar justiça. Outros documentos correlatos foram apresentados pelo depoente. “Eu não era um criminoso, nem um terrorista”, ressaltou.

 

Vannucchi falou sobre sua posição na cidade à época como professor e diretor da faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, membro do Clero, participante da Juventude Operária Católica, e radialista. O professor é tio de Alexandre Vannucchi Leme, que participava da Ação Libertadora Nacional (ALN), morto pela tortura.

 

Em 1968, percebendo que a situação no país estava se agravando, deixou o país para estudar em Roma, o primeiro autoexílio; o segundo foi em 73 após a morte do sobrinho. Vannucchi ressaltou que a igreja esteve dividida, com membros também favoráveis à ditadura, ao contrário daqueles que sofreram ao lutar contra. “Nem eu fui um herói, nem a Igreja Católica é indefesa. A ditadura contou também com as forças religiosas”, afirmou. “Por outro lado, quem se opôs ao golpe merece respeito. Aqui em Sorocaba muita gente sofreu muito mais que eu”, completou, lembrando outros jovens, operários e líderes presos, torturados e perseguidos, muitos ainda sem o reconhecimento.

 

Em seguida o ex-vereador e preso político, Oswaldo Noce deu seu depoimento falando sobre sua militância na Juventude Estudantil Cristã na década de 60 e depois na Ação Popular e movimento estudantil. Em 68 participou do Congresso de Ibiúna, sendo um dos presos.  Lembrou ainda a participação em manifestações sobre a morte de Alexandre Vannucchi e Vladimir Herzogi. Chegou a Sorocaba em 1973, onde continuou sua militância, e em 1982 foi eleito vereador por três mandados. 

 

Anselmo Neto solicitou que Noce encaminhe à comissão os documentos de sua propriedade que possam ajudar no trabalho da Comissão da Verdade. Já em resposta a Daniel Lopes, o ex-vereador afirmou que desconhece casos de tortura ocorridos em Sorocaba e presos sorocabanos em Ibiúna, além de falar, dentro de sua experiência, sobre a tortura psicológica e os traumas deixados pelas prisões e torturas. E respondendo à advogada Nalva Pazetti, esclareceu que não sofreu maus tratos com os instrumentos de tortura utilizados na época, mas os conhecia do relato de outros presos. Por fim, falou sobre o episódio do Congresso de Ibiúna, ao ser questionado pelo vereador Izídio. 

 

O terceiro depoente foi Francisco Gomes, o Chico Gomes, ex-ferroviário sorocabano e militante da ALN. Nascido em São Manuel, morador de Agudos, chegou a Sorocaba com nove anos, após a morte do seu pai, ferroviário, em acidente de trabalho, junto com a mãe e quatro irmãos - quadro que influenciou sua formação política e, posteriormente, revolucionária, como fez questão de destacar. Aos 17 anos deixou a cidade e, antes de ser ferroviário, Chico Gomes foi metalúrgico em outros municípios. Já na ferrovia, chegou à dirigente sindical em São Paulo.

 

O militante falou sobre o fim da liberdade pessoal, com a ditadura militar, e sobre sua participação na organização da Ação de Libertação Nacional – ALN e em seguida a assaltos a bancos e ao Trem Pagador. Continuou seu depoimento falando sobre a luta armada, até a guerrilha do Araguaia, e sobre sua saída do país em 1972, após a invasão de sua casa e prisão de sua mulher e filhas. Também relatou sua experiência no Chile, durante seu exílio no país, e também em Cuba, quando retornou ao Brasil em 1979, vindo para Sorocaba. Em seguida participou da Comissão de Anistia e da formação do Partido dos Trabalhadores (PT).

 

Sobre a participação do Alexandre Vannucchi na ALN, questionada por Daniel Lopes, falou sobre sua impressão, mas afirmou não tem informação correta de sua possível militância no movimento. Em seguida falou da perseguição sofrida pelas famílias dos exilados, ao responder a pergunta de Saulo do Afro Arts.