25/06/2014 14h52
 

Presidida pelo vereador José Crespo (DEM), a audiência pública contou com a participação de dezenas de representantes de associações e sindicatos.

 

A Câmara Municipal de Sorocaba realizou nesta quarta-feira, 25, a quinta e última audiência pública para debater o Projeto de Lei 178/14, que faz diversas modificações no texto do Plano Diretor. Comandada pelo presidente da Comissão do Plano Diretor, vereador José Crespo (DEM), a audiência pública contou com a participação de dezenas de representantes de associações de moradores de bairros e sindicatos. O Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) mandou suas propostas e críticas por escrito.

 

Logo no início dos trabalhos, o vereador José Crespo recapitulou todas as etapas de discussão do projeto de revisão do Plano Diretor, criticou a ausência de representantes da Prefeitura, especialmente do secretário de Obras, Antonio Benedito Bueno Silveira, mais conhecido como Toni Silveira, e explicou que todas as associações de moradores constantes no cadastro da Prefeitura foram convidadas para a audiência pública. Crespo fez questão de ler, um por um, o nome de todos os representantes de entidades presentes e também o das entidades que apresentaram justificativas pelo não comparecimento.

 

O representante da Associação Amigos do Bairro do Caputera, Albino Curcialeiro, apresentou fotografias do bairro, mostrando que se trata de uma região de chácaras, muito arborizada, e defendeu a revogação dos cinco parágrafos do artigo 125 do projeto de lei, que, segundo ele, só atende aos interesses dos especuladores imobiliários. O representante da Ambeu (Associação dos Moradores dos Bairros Elton Ville e Uirapuru), Paulo Dirceu Dias, disse que a associação apoia as propostas do IDS (Instituto Defenda Sorocaba) e, entre outras observações, criticou a transformação de Zonas Residencias 1 em Zonas Residenciais 2.

 

Capacitação de associações – O representante da Associação do Piazza di Roma, Manuel Borges, afirmou que o Plano Diretor não está sendo discutido de forma ampla com a sociedade e defendeu a retirada do projeto para que seja rediscutido nos bairros, com as associações de moradores. O representante da entidade também defendeu que a revisão do Plano Diretor seja divulgada nos bairros com carros de som e que também sejam capacitados os dirigentes de associações de moradores para que possam discutir as questões técnicas do plano.

 

O presidente da Cooperativa dos Trabalhadores da Construção Civil de Sorocaba e Região, Herculano Ramos, disse que não se pode amarrar excessivamente o Plano Diretor, pois isso iria paralisar novas construções e novos loteamentos, o que, no seu entender, gera desemprego na construção civil. Também defendeu a habitação de interesse social, prevista no plano, e se comprometeu a apresentar um relatório com as propostas da entidade que representa sobre o assunto.

 

O líder comunitário Francisco Valério, conhecido como Gilson, representante da Associação de Bairros do Iporanga II, disse que o projeto não pode ser aprovado como está, pois irá destruir nascentes e matas ciliares. Também a representante da Associação Amigos de Bairro do Jardim Simus, Cleonice Vieira, disse que não houve tempo hábil para que sua entidade discutisse o Plano Diretor e apresentasse suas críticas e defendeu que as audiências públicas fossem realizadas no período noturno. O líder comunitário Genésio Albuquerque também defendeu uma maior discussão do plano.

 

Participação de escola – Esteve presente na audiência pública o professor Randal Juliano, do Colégio Portal, juntamente com seus alunos da segunda fase do ensino fundamental, que desenvolveram um trabalho multidisciplinar sobre saúde ambiental e apresentaram sugestões ao Plano Diretor. O professor se comprometeu a apresentar as propostas por escrito, mas, juntamente com seus alunos Rafaela, Bruno e Mônica, adiantou algumas delas, como a proibição de ocupação das várzeas e a obrigatoriedade de construção de reservatórios de contenção por parte dos proprietários de empreendimentos.

 

O vereador Izídio de Brito (PT), a pedido de Crespo, usou a tribuna para saudar os professores e alunos do Colégio Portal, ressaltando a importância de se investir na educação básica. O vereador petista elogiou as propostas apresentadas pelo professor e alunos do colégio e salientou que os alunos das escolas sorocabanas, sempre que são ouvidos pelos vereadores, conseguem exprimir todos os problemas das comunidades em que vivem e, com sua participação, poderão enriquecer o Plano Diretor.

 

Participação de sindicatos – O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais, Sérgio Ponciano, cumprimentou a Câmara Municipal pela preocupação em ouvir todos os segmentos sociais, mas afirmou que o tempo de discussão do Plano Diretor foi muito curto e pediu aos vereadores que não votem o projeto de lei de forma apressada. Ponciano sugeriu que seja publicado no Jornal do Município um resumo de todas as propostas de revisão do Plano Diretor apresentadas na Câmara.

 

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região, Ademilson Terto da Silva, elogiou a Câmara Municipal pela audiência e criticou o Executivo por não ter enviado representantes. Também afirmou que não houve tempo hábil para que seu sindicato discutisse internamente o plano e apresentasse suas propostas e defendeu que seja feita uma ampla discussão do Plano Diretor com todo o movimento sindical. E adiantou que, entre os empresários, há uma grande discussão sobre o abastecimento de água na Zona Industrial.

 

O jornalista José Antônio Rosa, presidente do Sindicato dos Jornalistas, pediu aos vereadores que dessem mais ênfase ao debate sobre o projeto de revisão do Plano Diretor, inclusive com a elaboração de cartilhas que ajudem a esclarecer as questões técnicas do plano, tornando-o mais compreensível para um maior número de pessoas. Crespo disse ter sugerido à Prefeitura não só a elaboração da cartilha, mas até mesmo a disponibilização de técnicos apresentando informações didáticas à comunidade sobre o plano. “Só que a Prefeitura não quis fazer e a Câmara não tem condições de fazer”, observou Crespo.

 

Zonas residenciais – O arquiteto Paulo Freire, representando os moradores do Parque Campolim, observou que, desde 2004, a região do Campolim foi prejudicada, pois “foram cerceadas algumas qualidades do loteamento”, o que, segundo ele, ocorre novamente, já que está sendo aumentado o gabarito para construções, que, no seu entender, não está de acordo com a densidade do bairro. Para Paulo Freire, as pessoas que decidiram morar no Campolim buscavam uma zona residencial sossegada, mas com o adensamento, essa característica irá se perder. Comentando a fala do arquiteto, Crespo lamentou a ausência do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), mas o líder comunitário Paulo Dirceu Dias disse que o IAB subscreve as propostas do IDS (Instituto Defenda Sorocaba).

 

O vereador Jessé Loures (PV), corroborando o que já havia afirmado o vice-presidente da Câmara, vereador Carlos Leite (PT), disse que o presidente da Casa, Cláudio Sorocaba I (PR) e a mesa diretora não são refratários à ampliação da discussão do Plano Diretor. Jessé Loures lamentou a ausência de um capítulo sobre resíduos sólidos e energias renováveis no projeto de lei de revisão do Plano Diretor e se dispôs a trabalhar para que isso seja acrescentado. O parlamentar também salientou a importância das audiências públicas realizadas pela Câmara, sobretudo em face da complexidade do plano, que envolve questões muito técnicas.

 

Diogo Fragoso, representando a ONG Pé de Planta, disse que sua entidade ainda não tem uma posição definitiva sobre o Plano Diretor, mas observou que, da quarta para a quinta audiência pública, várias pessoas que não têm conflito de interesse em relação ao projeto de revisão do plano manifestaram o desejo de que ele passe por correções. “Isso precisa ser considerado”, enfatizou. Fragoso disse, ainda, que é preciso pensar no crescimento da cidade com base nos recursos finitos de que ela dispõe, como água, possibilidade de mobilidade urbana etc. “Qual o número de pessoas que Sorocaba pode comportar sem que isso implique numa queda drástica de qualidade de vida?”, indagou.

 

Fernando Lima, da subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicas), criticou, entre outros pontos do plano, a reserva de terrenos exclusivamente para a implantação de indústrias de grande porte. No seu entender, há muitos dispositivos vagos no plano que precisariam ser melhor explicados pela Prefeitura e se comprometeu a mandar por escrito todas as críticas do Dieese.

 

Falta de água – A líder comunitária Marcia Cristina de Jesus, da Associação do Elton Ville, criticou a proliferação de construções desenfreadas, sem qualidade, que, no seu entender, visam o lucro e prejudicam a cidade. O líder comunitário Samuel Junqueira, do Campolim, disse que o bairro está sendo deteriorado. Eliane Nóbrega de Almeida criticou os critérios para estabelecer os corredores de comércio e serviços. Segundo ele, há zonas residenciais diminutas, com dez corredores de comércio, enquanto bairros maiores só possuem três. A munícipe disse que esses corredores estão prejudicando as zonas residenciais.

 

O ambientalista e líder comunitário Claudio Robles criticou o conceito de “profundidade horizontal” do Plano Diretor, defendendo uma “profundidade vertical”, com construções subterrâneas como as que já existem em várias cidades do mundo. Criticou a construção de 5 mil apartamentos na região do Itanguá, perto da fábrica da Toyota, que, no seu entender, terá um grave impacto ambiental. “Não há nada no Plano Diretor sobre os futuros aposentados e pessoas com deficientes, que vão somar cerca de 200 mil pessoas num futuro próximo”, afirmou. Claudio Robles afirmou que a água é um problema grave e que a represa de Itupararanga será a Cantareira de Sorocaba. “A Zona Industrial vai ficar sem água”, disse.

 

Dando sequencia às manifestações foram apresentados problemas pontuais e discutidos temas como a especulação imobiliária, mudança de zoneamento e importância do debate sobre o projeto.

 

O último a se manifestar entre os participantes foi Fernando Lisboa que falou sobre a importância da região metropolitana e a distribuição das necessidades regionais, além do peso do interesse das empresas, citando problemas em construções na estrada antiga do Ipatinga, onde, por exemplo, inclinação do terreno não permitirá o escoamento do esgoto de empreendimentos e também o fechamento de rua pra a construção de obra pública que não existe. Lisboa ressaltou que o poder de fiscalização é constitucionalmente da Câmara citando ainda outros casos que considera problemáticos como os corredores de comércio e de ônibus.

 

Por fim, o vereador Carlos Leite (PT) agradeceu a participação de todos na audiência desta quarta e também nas anteriores e parabenizou a forma democrática como a comissão conduziu os trabalhos, cujo relatório final será produzido pelo relator Marinho Marte (PPS). Em seguida os parlamentares apresentarão suas emendas ao novo Plano Diretor, considerando as manifestações da comunidade, como frisou Leite.

 

CIESP: Encerrando a audiência pública, o presidente José Crespo apresentou  um documento do CIESP protocolado nesta quarta com a justificativa de ausência e o diagnóstico do órgão à proposta de alteração do Plano Diretor, datado de 2012. Crespo registrou que o documento não se refere ao atual projeto, mas sim ao anterior, e leu os três pontos de discordância já manifestados ao prefeito.

 

O primeiro refere-se à área da Toyota na Avenida Itavuvu, onde há necessidade de os corredores de biodiversidade serem preservados e interligados ao Parque da Biodiversidade, o que não está contemplado no Plano Diretor. O CIESP também pleiteia a manutenção do quilômetro quatro da Rodovia da José Erminio de Moraes como Zona Industrial e não como Zona de Chácaras Urbanas como definiria o novo plano, pois a área possui muitas empresas em expansão. Por fim, com relação ao Aeroporto de Sorocaba, cuja região consta como residencial, requer a conclusão do processo de desapropriação de duas quadras na Vila Helena para ampliação da pista.