Familiares de perseguidos políticos e participantes da “Noite do Beijo” foram ouvidos nesta segunda-feira, 11, na Câmara.
A Comissão Municipal da Verdade "Alexandre Vannucchi Leme" ouviu na manhã desta segunda-feira, 11, no plenário da Câmara de Sorocaba outros quatro depoentes, começando pelo presidente da OAB Sorocaba, Alexandre Ogusuku, filho do metalúrgico Yoshio Ogusuku. Também foram ouvidos o ator Carlos Batistella, o jornalista
A rodada de depoimentos foi comanda pelo presidente da Comissão, Izídio de Brito (PT), com participação do relator
A grande greve: Alexandre Ogusuku iniciou fazendo menção ao Dia do Advogado comemorado em 11 de agosto, quando em 1827 foram instalados os primeiro cursos de direito do país. Em seguida, relatou a trajetória do seu pai.
Filho de Japoneses, natural de Mirandópolis, Yoshio Ogusuku mudou-se para Sorocaba com os pais feirantes. Estudou no SENAI e se muda na década de 60 para São Paulo para trabalhar na indústria metalúrgica. Na Volkswaguen passou por greves de
Ogusuku lembrou a passagem em que seu pai leu uma mensagem aos grevistas onde apontava a prisão do líder sindical Luis Inácio Lula da Silva. Para o presidente da OAB, o grupo não lutava contra a ditadura, mas sim por qualidade de vida, destacando que seu pai não ingressou no sindicato ou na vida política, inclusive nunca se filiou
A Noite do Beijo: O segundo a falar foi o jornalista e atual secretário de Comunicação da Câmara,
O jornalista falou sobre a importância social, cultural e política da manifestação. Na época, Deamatis fazia a peça teatral “O Rei da Vela”, quando foi convidado a participar do evento. O jornalista também relatou a espera da liberação pela censura da peça, dirigida por Carlos Alberto Mantovani e que era uma das peças proibidas.
A ansiedade da juventude por liberdade levou à realização da manifestação que repercutiu na imprensa por todo o país e levou muitos jovens a participar do evento realizado no centro da cidade.
Dando continuidade ao tema, o diretor de arte e escritor Carlos Batistella, deu detalhes sobre a manifestação resgatada no livro “A Noite do Beijo”. Batistella falou sobre o movimento da juventude, que classifica como espontâneo, impulsionado pelos secundaristas, com participação de artistas, metalúrgicos e universitários, entre outros. Devido ao envolvimento político, o jovem repórter não conseguiu o registro de jornalista o que o impossibilitou de praticar a profissão.
Emocionado, Batistella citou vários participantes da Noite do Beijo e falou sobre passagens daquela noite que reuniu milhares de jovens, fugindo do controle dos organizadores, terminando em pancadaria e repressão policial, com a prisão dos líderes. Também falou sobre intimidações sofridas após o episódio. Para Batistella a criminalização da Noite do Beijo, se deu pela politização do movimento. Em reposta aos questionamentos, o diretor afirmou que não chegou a ser preso, apenas detido e liberado, sendo Rubens Figueiredo o delegado responsável. Também afirmou que não sofreu tortura.
Último depoimento: A antropóloga Maria Tibúrcia de Araújo Roco, sobrinha do ativista político Manuel Campos de Medeiros, encerrou a oitiva. O funcionário público foi um dos presos políticos de Sorocaba. Maria falou sobre o sofrimento da família em consequência da prisão do tio, lembrando o acervo de livros e documentos relativos ao período que ele tinha no porão de sua casa. Faxineiro do Mercado Municipal, Medeiros foi preso na cadeia da Rua General Carneiro acusado de ser comunista.
A depoente relatou sua participação, ainda criança, quando foi incumbida de levar comida ao tio na cadeia. Segundo Maria, o tio foi solto após cerca de 15 dias, mas antes a polícia invadiu o porão da casa e ateou fogo em toda sua coleção. A antropóloga afirmou que o tio dizia nunca ter sido torturado, mas acredita que ele possuía um projétil alojado no corpo. Maria lembrou ainda as mazelas que a família passou após a prisão do tio e seu envolvimento político, como a dificuldade de arranjar emprego e impossibilidade de reuniões familiares, além da perda das terras da família. Corroborando o depoimento, Sueli Maia dos Santos, prima de Maria, também falou sobre a trajetória de Manoel de Medeiros, falecido em 1986. As sobrinhas não sabem a data de sua prisão.
Histórico dos trabalhos – A Comissão da Verdade está na fase de coleta de depoimentos, que serão transcritos e enviados à Comissão Nacional da Verdade no fim deste ano. Os resultados também estarão disponíveis para instituições interessadas na história da região durante o regime militar.
A agenda de trabalho da Comissão da Verdade é desenvolvida conforme a disponibilidade de cada personagem, que é convidado a depor na Câmara. A comissão é presidida pelo vereador Izídio de Brito (PT) e tem como relator