21/08/2014 18h58
 

Coordenadores de diversas áreas da Santa Casa de Sorocaba e o conselheiro municipal de saúde que atuava no hospital foram ouvidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga os problemas no atendimento à saúde pública da cidade nesta quinta-feira, 21, no plenário da Câmara Municipal. O vereador Izídio de Brito (PT), presidente da CPI, coordenou os trabalhos, tendo como relator o vereador Marinho Marte (PPS).

 

Foram ouvidos a coordenadora de enfermagem da Santa Casa, Célia Mariza Mendonça; a gerente do plano de saúde Santa Casa Saúde, Selma Aparecida Durão; o assistente administrativo José Milego Filho, o coordenador de projetos da manutenção João Tadeu Rocha, o administrador Newton Tomio Miyashita; o diretor clínico técnico Aristides Camargo, o primeiro e segundo tesoureiros de 2013, Carlos Alberto Silva Nunes e Marcelo Tadeu Fogaça; o primeiro e segundo tesoureiros de 2014, Paulo Roberto Baceli e João Sola, respectivamente; e o presidente do conselho municipal de saúde, Lincoln Alexandre Alves Bezerra.

 

Endividamento - Questionado por Marinho Marte sobre a dívida de R$ 50 milhões da Santa Casa, e de que forma se chegou a esse valor, Newton Tomio Miyashita respondeu que a situação não é exclusiva da Santa Casa de Sorocaba. Segundo ele, todas as unidades do país têm endividamento acumulado. “Inclusive a unidade de São Paulo expôs recentemente suas feridas e sua dívida é muito grande”, contou. Miyashita detalhou que para atender os pacientes, da forma como era feito, de portas abertas, acatando todas as ocorrências que chegavam, houve aval para empréstimos que foram se acumulando em forma de débito. “Quando fui contratado, já havia uma dívida em andamento. No caso de Sorocaba, é difícil administrar os recursos numa situação em que o atendimento é incontrolável.” O administrador não soube responder por quantos anos a dívida se acumulou, alegando que ele não tinha relação com o setor financeiro.

 

O conselheiro municipal Lincoln Alexandre Alves Bezerra esclareceu que em 2005 começou a verificar perda monetária na Santa Casa em relação ao repasse feito pela prefeitura. Em determinado momento, com uma noção mais profunda do que vinha acontecendo, ele notou que a situação se tornou insustentável. “Em uma das atas do conselho municipal coloquei que não estaria mais aprovando nenhuma decisão, pois essa sangria devia ser parada.”

 

Lincoln, entretanto, fez a ressalva de que a realidade era diferente da atual. “Em termos do assunto ser tratado como dívida crescente, percebemos agora que a realidade de ontem pra hoje é completamente diferente. Trabalhávamos de portas abertas, atendendo qualquer pessoa que chegasse à Santa Casa, com qualquer problema. Hoje não.”

 

Fornecedores - O presidente da CPI, Izídio de Brito, questionou como era feita a escolha de fornecedores para o hospital. Newton Tomio Miyashita informou que havia um setor de compras, que utilizava uma plataforma na internet por onde fazia o orçamento com três fornecedores. “Quem coordenava o setor responsável pelas cotações e avaliação dos fornecedores era o senhor Nivaldo. Não lembro o sobrenome dele e no momento da requisição ele não estava mais na Santa Casa.”

 

Izídio perguntou se Miyashita tinha ciência dos contratos com empresas responsáveis pelas manutenções das macas, sobre o que há relatos de pagamentos para dois fornecedores. “Não tenho ciência. Acredito que os contratos eram responsabilidades do provedor”, respondeu o administrador.

 

Convênio e SUS – Quanto aos contratos dos médicos, a gerente do plano de saúde Santa Casa Saúde, Selma Aparecida Durão, informou que todos os médicos que trabalhavam com o plano são credenciados e têm contrato até hoje. No entanto, ela disse não saber o motivo do hospital, ao contrário do plano de saúde, não ter contratos formalizados. “Eu assumi em 2005 e gerenciava só o plano de saúde”, respondeu. Lincoln Bezerra expôs outra situação em relação ao convênio e o SUS: “por falta de profissionais do convênio, muitas vezes os profissionais do SUS faziam atendimento particular. Pediatras e ortopedistas, por exemplo. Então, às vezes o profissional não estava presente no SUS porque estava atendendo no convênio”. O vereador Izídio de Brito então questionou se havia pagamento da utilização do convenio Santa Casa Saúde para o hospital. O tesoureiro Carlos Alberto Silva Nunes falou que o caixa era único, mas as contas eram separadas. “Os pagamentos sempre foram completamente separados, em várias contas distintas e auditadas”, respondeu.

 

Acelerador linear – Sobre a verba destinada à construção de uma casamata para abrigar o acelerador linear, os administradores informaram que foi realizado um empréstimo de R$ 5 milhões e todo o dinheiro foi aplicado na construção e quitação do débito com o governo do estado. João Tadeu disse que os próprios funcionários da Santa Casa realizaram a obra, sob responsabilidade do engenheiro Helio Sola. Diante da não finalização da construção, a dúvida sobre a destinação de toda a verba e a necessidade de melhor esclarecimento, Izídio de Brito informou que Helio Sola será chamado a uma oitiva futura.

 

Número de leitos – Em se tratando da discrepância entre o número de leitos públicos da Santa Casa antes da intervenção, que era de 70, e o número de leitos disponibilizados hoje (230), José Milego Filho informou que havia um compromisso da Santa Casa em disponibilizar 60% deles para o convênio. Izídio disse que o interventor afirma que o convênio utilizava recursos e leitos do SUS. Selma Durão negou: “Não utilizávamos leitos do SUS. Em 1994, quando as Santas Casas se uniram para formar o próprio convênio, era exatamente para adquirir e fornecer recursos ao hospital. Isso tudo é contabilizado e enviado ao governo.” O presidente da CPI rebateu dizendo que é notório que havia muito aperto no atendimento, o que melhorou atualmente. Os administradores responderam que a situação era pior porque todos os enfermos de Sorocaba procuravam a Santa Casa e o hospital tinha que atendê-los. “Agora é dosado, tem que passar primeiro pela rede básica”, disse Carlos Alberto.

 

Finalizando os trabalhos, Izídio informou que serão chamados a futuras oitivas o senhor Nivaldo, responsável pelo setor de compras; o provedor, representantes do departamento jurídico e da contabilidade; o responsável técnico pelo início da construção da casamata, Helio Sola; e Francisco Fernandes, gestor da Santa Casa.

 

Membros – Em sua segunda fase, a CPI da Saúde é presidida pelo petista Izídio de Brito, tem como relator Marinho Marte (PPS) e é integrada pelos vereadores Francisco França e Carlos Leite, ambos do PT; Anselmo Neto e Rodrigo Manga, ambos do PP; José Crespo (DEM), Pastor Apolo (PSB), Helio Godoy (PSD), Antonio Carlos Silvano (SDD), Fernando Dini (PMDB), Irineu Toledo (PRB), Saulo do Afro Art’s (PRP) e Luis Santos (Pros).