26/07/2017 11h35

Por iniciativa do vereador João Donizeti (PSDB), a professora Benedita Silva de Toledo Alves, a Dona Bêne, recebeu a Comenda Referencial de Ética e Cidadania numa cerimônia marcada pela emoção dos presentes

 

Uma das fundadoras do Centro Cultural Quilombinho, a professora Benedita Silva de Toledo Alves, mais conhecida como Dona Bêne, recebeu a Comenda Referencial de Ética e Cidadania em sessão solene realizada na noite de terça-feira, 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, no plenário da Câmara Municipal de Sorocaba. A iniciativa da homenagem – que emocionou o público presente – foi do vereador João Donizeti Silvestre (PSDB), que ressaltou os relevantes serviços prestados pela homenageada a Sorocaba, sobretudo em prol da valorização do negro na sociedade. O evento contou com a presença de vários representantes de entidades voltadas para a valorização do negro.


 Além do vereador João Donizeti, a mesa de honra da solenidade foi composta pelas seguintes autoridades: o secretário municipal de Cultura e Turismo, Werinton Kermes; a co-fundadora do Centro Cultural Quilombinho, Marilda Aparecida Correa; e o co-fundador do Conselho Nacional das Irmandades de São Benedito, Darci Timóteo de Oliveira. O evento contou com apresentação musical dos familiares da homenageada. Além do autor da homenagem, também saudaram a homenageada o secretário de Cultura, Werinton Kermes, e a representante do Movimento Negro em Sorocaba, Mila de Paula. Também foi exibido um vídeo com depoimentos de familiares de Dona Bêne.


 “Na cidade de Sorocaba, temos muitos movimentos liderados por grandes mulheres negras com o intuito de melhorar a condição de vida do negro, para que ele seja reconhecido como pessoa, como um ser capaz”, afirmou Mila de Paula, salientando que Dona Bêne é uma dessas mulheres, “um exemplo de vida para todos”, tendo sido fundamental na criação do Quilombinho. Já o secretário Werinton Kermes parabenizou o vereador João Donizeti pela homenagem a Dona Bêne, que definiu como uma “mulher guerreira” e lembrou que Rosângela Alves (que morreu em 12 de março deste ano, aos 53 anos) tinha sua mãe, Dona Bêne, como sua principal referência. “Essa homenagem é mais do que justa e, através da senhora, a gente a estende para outras tantas Donas Bênes, também guerreiras, que existem por aí”, enfatizou o secretário municipal de Cultura dirigindo-se à homenageada.


 Mulheres negras – No discurso de saudação à Benedita Silva de Toledo Alves, o vereador João Donizeti ressaltou o papel histórico das mulheres negras na formação do Brasil, não só nos aspectos sociais e culturais, mas também econômicos, lembrando que “as mulheres negras, mesmo durante a escravidão, desempenharam um papel expressivo na economia popular dos centros urbanos, sendo responsáveis pela maior parte do comércio ambulante de cidades como Rio e Salvador, na sociedade escravagista do Império, e contribuindo para a formação das primeiras cadernetas de poupança do país, com o objetivo de comprar a alforria de seus filhos e maridos”.


Dona Bêne, num discurso emocionado, que emocionou também o público presente, agradeceu a homenagem recebida e contou que sua vinda à Câmara foi seu segundo passeio após a morte precoce de sua filha Rosângela Alves, pois já não sente motivação para sair de casa a não ser para ir à Igreja, como devota de Maria e São Benedito. “Estou muito triste e, ao mesmo tempo muito feliz. Sinto comigo a emoção que minha filha sentia quando estava neste lugar que estou hoje. Queria agradecer a todas as autoridades presentes e à Irmandade de São Benedito, com a qual convivo há mais de 40 anos, a todos os meus filhos, netos e bisnetos. Quero agradecer a Deus por ter chegado até hoje e ver minhas quatro gerações aqui presentes”, disse.


 A homenageada afirmou que Deus a pôs no mundo para servir: “Se eu pudesse começar tudo de novo, começaria com mais garra, com mais entusiasmo”. Dona Bêne enfatizou a importância da família, expressando seu orgulho pelo carinho com que é tratada por seus filhos, netos, bisnetos e até os vizinhos. “Eles não saem de casa sem me pedir a benção. Alguns beijam a minha mão, beijam a minha testa. Os meus vizinhos perguntam: ‘Como é que você consegue?’ Eu vivo com isso”. Dona Bêne também relembrou seu último momento com Rosângela Alves, quando a filha se despediu na porta do hospital. “Ela falou: ‘Mãe, vai firme mãe, continue na sua fé, porque eu, a senhora sabe, eu sou aquela pretinha, sua tinhosa’. E bateu com a mãozinha assim e subiu. Dali duas horas eu soube que ela estava morrendo” – contou, exortando as novas gerações a seguirem seu exemplo de luta e também o de sua filha.


 “Rosangela morreu lutando. Ela tinha um sonho e realizou esse sonho. Foi através desse sonho que estamos aqui hoje, lutando pela nossa raça, lutando pela raça de todos, mas principalmente pela raça dos negros. Nós todos unidos, nós vamos vencer, vamos ser alguém amanhã. Eu sinto que sou um alguém. Eu também vim do nada” – concluiu Dona Bene, na sessão solene em sua homenagem, que foi transmitida ao vivo pela TV Câmara de Sorocaba (Canal 61.3, digital e aberto; Canal 6 da NET e Canal 9 da Vivo), além dos canais digitais do Legislativo sorocabano na Internet.


 Dados biográficos – Benedita Silva de Toledo Alves, mais conhecida como Dona Bêne, nasceu na Fazenda do Engenho D’Água, em Porto Feliz, filha de Jura Toledo e Maria José da Silva. Órfã de mãe aos 4 anos, foi morar com seus padrinhos, Dona Cândida e Seu Joaquim. Quando criança sofria de bronquite e, por não poder participar de brincadeiras que exigiam esforço físico, brincava de boneca, casinha e adorava ouvir histórias. Aluna dedicada, sentava-se na primeira carteira e ganhou o apelido de “Mascote”. Formou-se na Escola Normal de Porto Feliz em 1961.


 Casou-se com o contador Benedito, com quem constituiu uma família de seis filhos, três deles adotados. Professora concursada da Rede Municipal de Ensino de Sorocaba, lecionou no Lar Escola Monteiro Lobato, na Escola do Jardim dos Estados e Escola do Jardim Betânia, onde se aposentou como coordenadora pedagógica. Viúva, casou-se há 27 anos com Hélio Tavares. Idealizou e fundou, com a filha Rosângela Alves e Marilda Corrêa, ambas também professoras, o Centro Cultural Quilombinho. Voltado para o resgate da autoestima das crianças e adolescentes negros de 6 a 16 anos, o projeto atende cerca de 60 crianças, oferecendo atividades culturais e educativas, como dança, musicalização, teatro, informática, esporte, capoeira e história afro-brasileira, entre outras.