A CPI do Transporte Público da Câmara Municipal de Sorocaba ouviu na tarde desta segunda-feira, 2, o diretor de Transporte Urbano da Urbes, Sérgio Pires Abreu, e o presidente do Sindicato dos Rodoviários de Sorocaba e Região, Paulo João Estausia. Participaram da oitiva o presidente da CPI, vereador Renan Santos (PCdoB), o relator Hudson Pessini (PMDB) e os vereadores Péricles Régis (PMDB), JP Miranda (PSDB), Francisco França (PT), Fausto Peres (Podemos) e José Francisco Martinez (PSDB).
No início da oitiva, Renan Santos explicou que o intuito da comissão, que foi formada por ocasião da greve do transporte público ocorrida esse ano em Sorocaba, é verificar relatos de que as empresas concessionárias estavam se recusando, por ordem de terceiros, a negociar o reajuste salarial com os trabalhadores. O parlamentar afirmou também que a cidade pratica a tarifa mais cara entre os municípios do interior paulista e ainda conta com subsídio aportado dos cofres públicos para financiar o sistema. Por isso, a CPI cobrou da Urbes e das duas empresas concessionárias planilhas detalhadas sobre a operação do sistema, o que totalizou, segundo ele, quatro caixas de documentos que serão analisados tecnicamente. Por fim, disse que o objetivo final da comissão é colaborar para a cidade ter um transporte público barato, eficiente e que não dependa de subsídios do Poder Público.
Primeiro depoente a responder questionamentos dos vereadores, Sérgio Pires Abreu demonstrou que o subsídio da Prefeitura para o transporte público vem crescendo nos últimos anos, passando de R$ 31,6 milhões em 2014 para R$ 61,1 milhões em 2017. O diretor da Urbes detalhou as gratuidades que são oferecidas no sistema (para idosos, guardas municipais, carteiros, tarifas reduzidas para estudantes, entre outros) que correspondem a 39,48% do volume de viagens, em média de janeiro a maio desse ano. Segundo o depoente, essas gratuidades são custeadas por subsídios e, juntamente com o transporte especial de passageiros e programas como o Integrabike, são responsáveis pelo alto custo do transporte no município.
Com base nos dados apresentados pelo depoente, os vereadores Péricles Régis e JP Miranda destacaram que há contradição no aumento do subsídio mesmo com a redução de quilometragem na operação dos ônibus na cidade. “Não está muito claro o que está acontecendo nesse momento para justificar o alto repasse, que só cresce. A quilometragem foi reduzida, a frota operacional caiu, custo operacional baixou e nenhuma gratuidade nova foi de inserida 2014 para cá”, salientou JP Miranda.
Por fim, respondendo questionamentos do vereador Francisco França, Sérgio Abreu negou ter havido conluio das empresas concessionárias, a Urbes e o ex-prefeito José Crespo para impedir negociações de reajuste salarial dos motoristas da cidade. Segundo ele, a orientação do então presidente da Urbes, Wilson Unterkircker Filho, era de levar o máximo de informação possível para que a Prefeitura pudesse tomar providências quanto ao assunto, mas a mediação estava centralizada no comando do prefeito.
Utilização política da greve – O presidente do Sindicato dos Rodoviários de Sorocaba e Região, Paulo João Estausia, por outro lado, afirmou que a greve foi explorada politicamente pelo ex-prefeito para enfraquecimento do sindicato. “O que se ouvia de cargos de confiança de representantes das empresas é que o prefeito determinou que era para fazer o enfrentamento e não se preocupar com o custo da greve”, declarou Estausia. “O prefeito Crespo já em 1991, quando era Secretário de Transporte, foi o autor da proposta de retirada dos cobradores, oferecendo menor tarifa e melhor qualidade no transporte, no entanto hoje isso ainda não existe”, complementou.
Ainda sobre a greve, o presidente do sindicato afirmou que as próprias empresas concessionárias tentavam impedir os ônibus de sair para as ruas. “Tem áudio de grupos de WhatsApp comemorando para colocar a culpa no sindicato. Mas a greve não teve nenhuma ocorrência de ato criminoso, foi totalmente respeitosa, respeitando todos os limites da lei”, afirmou.
O depoente avaliou que a qualidade dos ônibus vem piorando com o tempo, com crescente índice de quebras, e ressaltou que o número de afastamento dos condutores por doenças ocupacionais também cresce, segundo ele principalmente depois da retirada dos cobradores, a partir de 1992.
Por fim, Estausia, em resposta a questionamentos de JP Miranda, negou que o sindicato tenha realizado manobras para causar caos no transporte durante a greve e jogar a população contra a Prefeitura, empresas e os motoristas. Também negou que tenha ocorrido orientação expressa do sindicato para a realização da chamada “catraca livre”. “O que houve foi invasão do próprio usuário na condição de oportunismo da situação invadindo a porta de desembarque”, argumentou o depoente.