Especialistas e vereadores reforçam a falta de recursos estadual e federal e de acesso à mamografia e ao tratamento, em audiência realizada pelo vereador Hudson Pessini (PMDB)
Por iniciativa do vereador Hudson Pessini (PMDB), a Câmara Municipal de Sorocaba realizou na manhã desta quarta-feira, 25, audiência pública para discutir a prevenção e a conscientização do câncer de mama no município de Sorocaba, em alusão ao movimento mundial intitulado Outubro Rosa. Além da importância do diagnóstico precoce, foi exposta a dificuldade de acesso à mamografia e ao tratamento.
Além de Pessini, que presidiu a audiência, a mesa de trabalhos foi composta pela coordenadora da Atenção Básica da Secretaria da Saúde, Fernanda Coradini Carlos, representando o secretário Ademir Watanabe; a presidente da Associação Helena Piccardi de Andrade Silva (AHPAS), Dra. Luciana Monteiro Portugal Gomes; o superintendente do Hospital Santa Lucinda, Carlos Aparecido Teles Drisostes; o presidente do Conselho Deliberativo da Associação Beneficente Oncológica de Sorocaba (Abos), Dr. Gilson Delgado; o oncologista Carlos Eduardo Ribeiro de Moura e a médica mastologista da Liga Sorocabana de Combate ao Câncer, Alice Francisco. Os vereadores Renan Santos (PCdoB), José Francisco Martinez (PSDB), Iara Bernardi (PT) e Fernanda Garcia (PSOL) também participaram da audiência.
O presidente deu início à audiência pública ressaltando que o encontro integra o conjunto de ações que a Câmara vem desenvolvendo nesse mês de outubro. Lembrou ainda que o câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e mais comum entre as mulheres, sendo 57 mil novos casos por ano Brasil. Em Sorocaba a fila de espera pela mamografia é de 7700 pessoas, citou. “Sorocaba como sede de região metropolitana deveria receber maior atenção do Governo do Estado. Não existe condições de Sorocaba absorver mais essa demanda”, concluiu.
Desde o início do mandato, o vereador Hudson Pessini, que é membro da Comissão de Saúde Pública da Câmara, lançou uma campanha através das redes sociais em prol da construção de um hospital do câncer para atender à região de Sorocaba. Um dos símbolos do movimento é a utilização de um laço dourado e da hashtag #euqueroohospitaldocanceremsorocaba.
Outubro Rosa – A vereadora Ira Bernardi, que já teve um câncer de mama curado, lembrou a trajetória do movimento “Outubro Rosa” no Município, mas questionou a continuidade das atividades de prevenção, uma vez que as mulheres não tem acesso à mamografia, ressaltando que os hospitais de Sorocaba não possuem mamógrafos para realização dos exames, além da falta de tratamento de radioterapia na cidade e de remédios para quimioterapia. A vereadora sugeriu que o grupo presente na audiência visite a Policlínica que, segundo informado pelo Executivo, teria uma ala específica para atendimento oncológico. Também criticou os deputados da região e o Executivo que não buscam recursos no Ministério da Saúde.
Em seguida, o vereador Renan Santos ressaltou a importância das associações assistências do Município para os pacientes de câncer e suas famílias. Também fez um apelo para os demais parlamentares para que, através das emendas impositivas no Orçamento, destinem recursos a essas entidades. E, assim como a vereadora Iara, Fernanda Garcia afirmou que discutir o problema é muito importante, mas a dificuldade das mulheres conseguirem atendimento na Rede Pública de Saúde, implica no tratamento das pacientes, que conseguem ser diagnosticadas, uma vez que muitas não tem acesso nem mesmo à consulta com um ginecologista. “É um problema que deve ser resolvido. A campanha não pode ser só preventiva, tem que ser também prática. É uma problemática angustiante para nós mulheres”, disse.
Também se manifestou sobre o tema o vereador Martinez que afirmou ter vergonha de uma campanha que não traz resultados, reforçando a necessidade de ações efetivas para ampliar os atendimentos das mulheres. Disse ainda que é preciso tirar encaminhamentos das discussões da audiência. “Hoje, só com ação na justiça se consegue algo na Saúde. A campanha é maravilhosa, mas as pessoas não têm onde ser atendidas”, afirmou.
Oncologistas – O médico oncologista, com 45 anos de experiência na área, Gilson Delgado, reforçou a importância da prevenção primária, através de campanhas, e a secundária, que é feita através do exame da mamografia, que detecta tumores pequenos, que não podem ser percebidos no autoexame. Disse ainda que é preciso recursos, que no caso do tratamento do câncer, vêm dos governos estaduais e federal, reforçando a necessidade de um hospital do câncer na cidade que, como frisou, sempre esbarra na questão política. “Vejo a oncologia de Sorocaba escorrer como água”, disse. O médico, que foi um dos fundadores da Ados e do Gpaci, relatou as dificuldades das entidades assistenciais referentes à falta de apoio e de recursos do Poder Público e também de doações de empresas.
Em seguida, o oncologista Carlos Eduardo Ribeiro lembrou que é preciso informar, tratar e reabilitar as mulheres, ressaltando que hoje se trabalha muito mais a assistência que a prevenção e que o tratamento e a cura ficam mais fáceis com o diagnóstico precoce, uma dificuldade no sistema público de saúde. O médico sugeriu uma “força-tarefa”, chamada por ele de “Profissional do Bairro”, formada pela iniciativa privada e universidades, para estender as ações preventivas por todo o ano.
E a Dra. Luciana Monteiro explicou o trabalho desenvolvido pela AHPAS que realiza o transporte de pacientes e familiares das casas de apoio ou de suas residências para tratamento nos hospitais na cidade de São Paulo. A médica falou sobre a dificuldade de deslocamento dos pacientes dentro da capital paulista, reforçando que para os pacientes do interior, que precisam ir aos grandes centros em busca de tratamento, o problema é ainda maior. Disse também que 500 crianças em vulnerabilidade social aguardam na fila pelo transporte da associação, que atende hoje 40 pacientes em estado grave.
O superintendente do Hospital Santa Lucinda, Carlos Aparecido Teles Drisostes, também reforçou que o tratamento de câncer é regional, defendendo o hospital especializado, mas lembrando que isso demanda tempo, sendo que a população precisa de atendimento imediato. Em seguida, a médica mastologista Alice Francisco falou sobre o desrespeito da “Lei dos 60 Dias”, em vigor desde 2012, mas que não é cumprida. Defendeu ainda a Campanha Outubro Rosa como provocadora das mulheres pela luta por seus direitos. Também criticou a recusa da Prefeitura à doação de uma carreta para realização de mamografias pela empresa “Avon”. “Temos o problema da prevenção e do tratamento, que precisam ser pensados para serem resolvidos simultaneamente”, concluiu.
Prefeitura – Encerrando as manifestações da mesa, a representante da Secretaria da Saúde, Fernanda Coradini Carlos, falou sobre o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), que atendem mais de 50% da população, reforçando que a Atenção Básica deve ser a porta de entrada dos pacientes na Rede Pública. Especificamente sobre o câncer de mama, disse que o diagnóstico precoce está baseado no tripé: população alerta aos sintomas, profissionais capacitados para detecção precoce e diagnóstico em tempo oportuno. Afirmou ainda que não se trata de responsabilidade exclusiva do Município, mas também do Estado.
Sobre o acesso aos exames, disse que os enfermeiros podem solicitar a mamografia de rastreamento, independente de consulta médica que, reconheceu, é uma dificuldade na rede. “Estando alterada a mamografia, não precisamos mais que o paciente passe pelo médico da unidade. O próprio enfermeiro pode encaminhar o paciente para o Policlínica, ganhando tempo”, disse. Disse ainda que são quatro prestadores atendendo os exames de mamografia, além do “Programa Saúde em Dia”, que é a carreta de atendimento, que a partir do próximo mês passará a realizar 1000 mamografias ao mês (hoje são 600), cujas vagas são agendadas pela Central de Regulação. Também afirmou que atualmente a Santa Casa não está atendendo, pois, o mamógrafo está quebrado, o que, assim que normalizado, irá aumentar a oferta mensal para 1150 exames.
Ao final da audiência, o vereador Hudson Pessini afirmou que no dia 25 de outubro de 2018, ou seja, dentro de um ano, realizará outra audiência pública com o mesmo tema para verificar se houve melhorias em relação ao tema em Sorocaba. “Ao que tudo indica, em um ano é para praticamente zerar a fila da mamografia”, disse, complementando que a partir do que foi discutido na audiência elaborará uma carta aberta ao prefeito José Crespo cobrando soluções.