A convite do presidente da Câmara Municipal, vereador Rodrigo Manga (DEM), Silvia Moreira respondeu a questionamentos dos vereadores; a diretora ficou de voltar à Câmara na próxima terça-feira, 12, e Manga anunciou um arrastão no hospital
A diretora do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, a cirurgiã plástica Silvia Silva Moreira, compareceu à Câmara Municipal nesta quinta-feira, 7, durante a sessão ordinária, para prestar esclarecimentos sobre problemas no atendimento prestado à população, que já foram objeto de debates na Casa e também de diversas reportagens na imprensa. O convite foi feito pelo presidente da Casa, vereador Rodrigo Manga (DEM), uma vez que a direção do Conjunto Hospital não havia comparecido a audiências públicas da Câmara, quando solicitada por meio de convite, em face das muitas denúncias a respeito do atendimento no Conjunto Hospitalar. Manga chegou a cogitar na possibilidade de solicitar à Comissão de Saúde da Câmara a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a fim de apurar possíveis irregularidades nos serviços ofertados nesse hospital.
“Ao ouvir as queixas da população e debater esses problemas, chamando aqui as autoridades responsáveis pela saúde, o propósito dos vereadores é colaborar para a melhoria da saúde e poder minimizar o sofrimento da população”, afirmou Manga, que, a pedido da vereadora Cíntia de Almeida (PMDB), veiculou um vídeo contendo várias reportagens televisivas com denúncias acerca do atendimento no Conjunto Hospitalar. As reportagens mostraram a falta de remédios para as sessões de quimioterapia no hospital, bem como a falta de agulhas e seringas para a realização de cirurgias, além da falta de material para curativo, copos descartáveis e até água. Numa das reportagens, um funcionário do hospital que não quis se identificar disse que a falta de quimioterápicos no hospital já levou pacientes à morte.
Silvia Moreira fez uma apresentação sobre o atendimento de alta complexidade realizado no hospital e disse que houve um aumento na oferta de exames e no número de cirurgias. Respondendo a indagações da vereadora Cíntia de Almeida (PMDB), a primeira a fazer questionamentos, Sílvia Moreira disse que ocupa cargos de direção no hospital há nove anos e disse que tem recebido os vereadores que a procuram. No caso do não atendimento à deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), ela disse que houve um desencontro, por isso não foi possível receber a parlamentar. Quanto à não realização de cirurgias plásticas reparadoras, problema também levantado por Cíntia de Almeida, a diretora afirmou que, devido ao crescimento das cirurgias de emergência e urgência, muitas cirurgias eletivas, como as cirurgias plásticas reparadoras, acabam deixando de ser realizadas. “Em 2014, o número de cirurgias eletivas e de emergência se equiparavam, mas, hoje, as de emergência têm superado as eletivas”, afirmou.
Setor desativado – O vereador José Francisco Martinez (PSDB), além do problema da falta de material e de outros questionamentos, também observou que um andar do hospital está desativado e o centro cirúrgico do hospital está em reforma há tempos, com isso, o hospital conta com cinco salas de cirurgias a menos. O vereador também denunciou que cirurgias de ortopedia estão sendo feitas no mesmo centro cirúrgico em que são realizados os partos, com risco de contaminação. E que os médicos, por falta de estrutura, chegam a escrever nos prontuários dos pacientes apoiando-se muitas vezes em cima de um tambor, por falta de um local apropriado. Silvia Moreira disse que, para compensar as salas que foram fechadas, foram abertas duas salas no Hospital Leonor Mendes de Barros, entre outras medidas. “Portanto, das cinco salas de cirurgias, na prática, perdemos uma só”, afirmou, dizendo que a conclusão da reforma está prevista para os próximos 20 dias. Quanto à falta de material, a diretora disse que isso pode ocorrer por vários motivos, um deles por atraso na distribuição por parte das empresas.
O vereador Wanderley Diogo (PRP) quis saber qual o grau de compromisso da diretora do hospital com a cidade e qual o seu sentimento em relação aos casos denunciados de problemas de atendimento no hospital. Silvia Moreira disse que mora em Sorocaba e foi no Conjunto Hospitalar que se formou. “Tenho amor por esse hospital”, enfatizou. Silva Moreira questionou a correção de parte das denúncias apresentadas pela imprensa e disse que instituições como a Vigilância Sanitária e o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) fizeram vistorias no hospital. Segundo ela, o Conjunto Hospitalar está trabalhando com o máximo de sua capacidade, com uma taxa de ocupação de 95%, em média, chegando a 98% em determinadas ocasiões.
A vereadora Iara Bernardi (PT) criticou o fato de a diretora do Conjunto Hospitalar não reconhecer os problemas que lhe foram apresentados pelos vereadores e através da imprensa. A vereadora salientou que o orçamento do hospital – em torno de R$ 120 milhões anuais, segundo a diretora do hospital – é expressivo, uma vez que, no passado era de cerca de R$ 100 milhões e vem aumentando. Iara Bernardi disse que o hospital foi “vítima de quadrilhas no passado” e que o Hospital Regional vive um “cenário de guerra civil”. Também alertou a diretora para a necessidade de admitir essa realidade, reconhecer os problemas do hospital e pedir ajuda aos vereadores e aos deputados para resolvê-los. A vereadora também quis saber qual é o futuro do Conjunto Hospitalar depois de se inaugurar o novo hospital, que será terceirizado. Segundo Silvia Moreira, o novo hospital ficará encarregado de traumatismos e cirurgias pediátricas, o que irá aumentar o número de cirurgias eletivas no Conjunto Hospitalar. Novamente instigada por Iara Bernardi, admitiu que existem problemas no hospital.
“Minimizando problemas” – O vereador Pastor Apolo (PSB) reclamou que a Câmara não tem sido respeitada, uma vez que os vereadores não são recebidos pela direção do Conjunto Hospitalar. “Médicos que trabalham no hospital dizem que ele funciona com apenas 60% da capacidade. Há cirurgias sendo canceladas por falta de agulhas e linhas. Há caso de médico tendo de usar material de sua própria maleta particular, porque o hospital não tem material básico”, afirmou. Os vereadores Silvano Júnior (PV) e Fausto Peres (Podemos) também criticaram o fato de não terem conseguido entrar no hospital, quando chamados a checar uma denúncia que lhes fora feita. A vereadora Fernanda Garcia (PSOL), entre outros questionamentos, criticou duramente o governo do Estado, que, segundo ela, tem o claro propósito de sucatear a saúde, política que, no seu entender, tem sido feita também pelo atual Governo Federal e pelo Congresso Nacional. O vereador Renan Santos (PCdoB), presidente da Comissão de Saúde, também criticou o Governo do Estado, que, no seu entender, está há 20 anos precarizando a saúde.
João Donizeti Silvestre (PSDB) disse que é imprescindível a comunicação da direção do Conjunto Hospitalar com as autoridades constituídas. Vitão do Cachorrão (PMDB) criticou o que, no seu entender, é uma espécie de excesso de calma da diretora diante da trágica situação do hospital. O vereador Luis Santos (Pros) afirmou ter ficado claro que “o Conjunto Hospitalar tem uma administração alienada”. E a vereadora Cíntia de Almeida (PMDB) disse que a diretora desvirtuou a fala dos vereadores e não se preocupou em responder às questões do Legislativo. “É lamentável essa falta de responsabilidade. Sugiro a abertura de uma CPI sobre o Conjunto Hospitalar de Sorocaba” – defendeu a vereadora do PMDB.
Por fim, a diretora do Conjunto Hospitalar disse que estava havendo um problema de comunicação com a Câmara e se colocou à disposição dos vereadores daqui para frente, disponibilizando canais de comunicação. Ficou acertado que a diretora do Conjunto Hospitalar, Silvia Moreira, irá voltar na terça-feira, 12, às 10 horas, para dar continuidade aos esclarecimentos sobre o hospital, uma vez que tinha outro compromisso previamente agendado e não poderia responder aos questionamentos de todos os vereadores. Já o presidente da Casa, vereador Rodrigo Manga (DEM), anunciou que será feito um arrastão no Conjunto Hospitalar e convidou todos os vereadores, não só a Comissão de Saúde, para participarem dessa ação, que será feita de surpresa, sem data marcada e prévio aviso.