Novos depoimentos foram prestados na tarde desta
quinta-feira, 10, para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Merenda,
que investiga denúncias de irregularidades nos pagamentos da Prefeitura para as
empresas que fornecem alimentação para as escolas de Sorocaba. Participaram da
sessão a presidente da comissão, Iara Bernardi (PT), o relator Péricles Régis
(MDB) e a vereadora Fernanda Garcia (PSOL).
As oitivas ocorreram um dia após a Polícia Federal e a
Controladoria Geral da União deflagrarem busca e apreensão de documentos em
três cidades da região (Sorocaba, Votorantim e Tietê) e em mais 26 do Estado de
São Paulo, dentro da operação "Prato Feito", que investiga fraude de
licitações e desvio de recursos das áreas de Educação das prefeituras,
especialmente na merenda.
Abrindo os trabalhos nesta tarde, a presidente Iara
Bernardi enfatizou a importância da CPI nesse contexto. “A Política Federal
precisa identificar entre os entes públicos os funcionários que participaram
das fraudes e acredito que a CPI vai contribuir em relação a isso. Nós
estávamos olhando para o ano de 2017, tivemos que retroceder para 2016 e agora
talvez até mesmo para 2015”, afirmou a vereadora, explicando que o escopo da
comissão foi se ampliando à medida em que novas irregularidades foram
descobertas.
O primeiro depoimento foi prestado por Roberta Barreira,
ex-supervisora administrativa da empresa Apetece, que prestou serviço em
caráter emergencial à Prefeitura de Sorocaba em 2016. A depoente é mulher do
ex-secretário de Mobilidade do governo Antonio Carlos Pannunzio, José Roberto
Barreira, e trabalhou lotada dentro da Secretaria de Educação, embora fosse
funcionária da empresa terceirizada. Ela defendeu que o fato de ser mulher de um
secretário municipal não teve influência em sua contratação. “Fui escolhida
apenas pelo meu currículo”, afirmou.
Sobre sua presença dentro da Prefeitura, Barreira disse que
não havia nenhuma inconformidade e explicou quais eram suas atribuições.
Segundo ela, seu trabalho se limitava em cuidar do fornecimento de gêneros
alimentícios, equipamentos e demais materiais para as 27 entidades
assistenciais conveniadas à Prefeitura. “Fui determinada para ficar no Centro
de Referência em Educação para fazer interface entre os problemas dos gêneros
entregues e as nutricionistas”, disse, ressaltando que sua lotação nesse local
seria para dar celeridade no levantamento das necessidades da Secretaria da
Educação e encaminhamento para a empresa Apetece.
Iara Bernardi questionou se sua presença dentro da
Prefeitura poderia dificultar a detecção de irregularidades, evitando que
sanções fossem tomadas contra a empresa terceirizada. A depoente respondeu que
não tinha poder de veto para reclamações da Prefeitura. “Eu era uma simples
funcionária destacada para cuidar das entidades sociais, não tinha essa força
toda que estão dizendo que eu tinha”, disse.
Quanto ao trâmite de queixas e denúncias de irregularidades
da merenda, a outra depoente, Aline Correia Ferraz, que na época era chefe da
seção de Apoio a Contratos de Serviços e Obras, apresentou a constatação de que
os pedidos de notificação diminuíram muito no período de prestação de serviço
pela Apetece em relação à empresa anterior, a ERJ. “Eu não recebia tantas
reclamações, mas não sei dizer se é por conta da presença da funcionária na
secretaria ou se o serviço realmente estava sendo prestado a contento”.
Em relação à ERJ, que durante anos foi denunciada por
problemas na limpeza, qualidade dos produtos fornecidos, não cumprimento de
contratos, falta de fornecimento de uniformes e pagamentos de salários, Aline
Ferraz afirmou que todas as penalidades possíveis foram aplicadas, desde
notificação e multas até a rescisão do contrato, com multa de 20% sobre o valor
contratual e impedimento de licitar e contratar com o município.
Alterações no edital – O ex-chefe da Divisão de Licitações, Renato Toiti
Matuguma, foi questionado pela CPI sobre a tramitação dos processos
licitatórios para tentar esclarecer em que momento foram realizadas alterações
no edital que suprimiram os itens que possibilitariam a fiscalização dos
gêneros alimentícios e recursos advindos do governo federal e outros entes
governamentais.
O depoente afirmou que a atribuição da divisão era elaborar
o edital de acordo com o projeto básico apresentado pela secretaria
solicitante. Em relação às cláusulas que deveriam prever o desconto dos
pagamentos de gêneros alimentícios e recursos advindos do Governo Federal,
Matuguma disse que seriam previstos nos anexos do edital, que, segundo ele, não
passam pelo crivo de sua divisão por tratarem de aspectos técnicos. “Esse anexo
é parte integrante do edital, mas não é a Secretaria de Licitações que elabora
ou altera, ele é recebido pelo senhor Carlos Carvalho. Nós recebíamos pronto dele”,
respondeu, se referindo ao ex-gerente de Controle Interno da Secretaria da
Administração e ex-fiscal de contratos da merenda.
Demais depoimentos – Também convocado para essa quinta-feira, o ex-secretário
José Roberto Barreira solicitou à CPI mais 15 dias de prazo para ser ouvido. Já
em relação ao ex-secretário de Administração, Roberto Juliano, a presidente
Iara Bernardi informou que a CPI esgotou todas as tentativas de convocação, por
correspondências e pessoalmente, não obtendo respostas, então a convocação será
realizada judicialmente.
Outras duas funcionárias da Prefeitura foram ouvidas pela
comissão nesta quinta-feira, mas por serem servidoras de carreira e terem
solicitado sigilo de seus depoimentos, as oitivas foram realizadas sem
transmissão pública.