17/04/2019 11h59


Ex-assessora do prefeito José Crespo respondeu a questionamentos dos vereadores; já seu marido, também convocado a depor, não compareceu à oitiva

A Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Municipal que investiga denúncias de violações envolvendo o trabalho voluntário na Prefeitura de Sorocaba ouviu na manhã desta quarta-feira, 17, a ex-servidora comissionada Tatiane Polis, envolvida em fatos investigados pela CPI de, conforme explicou a presidente da comissão, Iara Bernardi (PT), “usurpação de função pública camuflada em falsos serviços voluntários”. Além da presidente, participaram das oitivas a relatora Fernanda Garcia (PSOL) e os vereadores Péricles Régis (MDB) e Renan Santos (PCdoB).

Respondendo a diversos questionamentos dos parlamentares, a depoente contou que conheceu o prefeito José Crespo ainda em 2016, durante a campanha do então candidato Renato Amary. Em 2017, foi nomeada diretora de área, prestando assessoria ao prefeito Crespo, cargo do qual, de acordo com ela, pediu exoneração após crise na prefeitura envolvendo seu diploma. Tatiane Polis afirmou que após isso prestou consultorias em vendas e treinamentos, não tendo sido contratada por nenhuma empresa, e declarou que, no momento, está desempregada.

Sobre sua atuação como voluntária na Prefeitura de Sorocaba, Tatiane Polis afirmou que a proposta do serviço foi feita pelo próprio prefeito José Crespo, tendo sido o termo de voluntariado assinado em seu gabinete, em meados de dezembro de 2018. A depoente declarou que não entregou nenhum documento ao Executivo para poder exercer o trabalho voluntário, pois não lhe fora solicitado. Iara Bernardi ressaltou que, de acordo com o art. 9° do Decreto 22.930, o serviço voluntário na Prefeitura de Sorocaba somente poderá ser exercido após cadastro na Secretaria de Cidadania e Participação Popular, premissa que, como reconhecido por Tatiane Polis e também em depoimentos anteriores, não foi atendida.

Já a vereadora Fernanda Garcia destacou que, também conforme o referido decreto, uma das exigências da regulamentação do serviço voluntário é que a pessoa esteja empregada e tenha condições de sustentar sua família, o que não ocorre, uma vez que a depoente afirmou estar desempregada. “O prefeito não respeita o próprio decreto assinado por ele”, afirmou Fernanda Garcia.

Sobre a maneira como seu trabalho era exercido, Tatiane Polis afirmou que prestou serviços a diversas secretarias, todos voltados para entidades. Posteriormente, a depoente disse que atuou nas três edições do projeto Fala Bairro, complementando que esteve presente em vários eventos da prefeitura, mas apenas como munícipe, tal como em inaugurações de unidades de saúde. Além disso, Tatiane Polis afirmou ter realizado encontros com líderes comunitários, levantamento de demandas locais, agendamentos, reuniões com munícipes e entidades. Complementou que participou de reuniões junto à Secretaria de Comunicação, mas “apenas como ouvinte, como voluntária”, negando ter delegado serviços a funcionários da Prefeitura. A depoente negou ainda que tenha sugerido nomeações ou alterações de cargos dentro da administração pública.

Questionada pela presidente Iara Bernardi, Tatiane Polis afirmou que não recebeu nenhum pagamento em troca do trabalho voluntário, seja por funcionários da Prefeitura ou por meio de empresas que mantém contrato com o Executivo. Sobre supostos pagamentos no valor de R$ 11 mil feitos por seu concunhado, Raphael Pironi, servidor diretamente ligado ao prefeito, a depoente também negou, salientando que disponibiliza os dados de sua conta bancária para verificação.

Em relação a mudanças na gestão do contrato de publicidade com a empresa DGentil, de mais de R$ 20 milhões, afirmou que não teve conhecimento dos fatos, negando também que ajudasse a administrar as contas do referido contrato após passagem da gestão da Secretaria de Comunicação para o gabinete do prefeito.

Ao final da oitiva, a presidente da CPI, Iara Bernardi, afirmou que o conteúdo das respostas de Tatiane Polis será confrontado com as declarações dos funcionários ouvidos anteriormente pela comissão e com as informações constantes nos documentos que a CPI coletou.

Ausência de depoente – Também convocado para prestar esclarecimentos à CPI nesta quarta-feira, o marido de Tatiane, Willian Polis, não compareceu à oitiva e entregou uma justificativa em que alega que sua ausência ocorreu em virtude de que “o prazo concedido foi demasiadamente exíguo”, impossibilitando-o de desmarcar compromissos previamente firmados.

Também durante a sessão, a presidente da CPI leu um documento entregue pelo ex-secretário de Comunicação e Eventos, Eloy de Oliveira, ratificando e solicitando juntar aos autos da comissão as declarações prestadas por ele às autoridades policiais, com conteúdo diferente de seu depoimento em oitiva na Câmara Municipal no dia 19 de março. No documento, Eloy de Oliveira afirma: “Não menti à CPI, apenas evitei falar de todos os fatos em virtude de estar sofrendo pressão”, acrescentando que após seu afastamento da Prefeitura se sentiu livre para prestar esclarecimentos e que seu objetivo é “que os fatos que cercaram o voluntariado envolvendo Tatiane Polis sejam cessados”.