Parlamentar e participantes do evento defendem a implantação do projeto de Prevenção da Violência Doméstica com a Estratégia Saúde da Família em Sorocaba
Por iniciativa da vereadora Fernanda
Garcia (PSOL), Câmara Municipal de Sorocaba promoveu nesta quarta-feira, 23,
durante todo o dia, o Seminário "Prevenção da Violência Doméstica através
da Saúde da Família". Com três mesas de discussões, o encontro debateu a
rede de proteção à mulher e o combate à violência, incluindo a apresentação de
um projeto de lei que utiliza a estratégia de saúde da família para prevenir e
identificar a violência doméstica.
Além da parlamentar, que presidiu o evento, a vereadora Iara Bernardi (PT) também
participou do encontro que reuniu autoridades, agentes comunitários de Saúde,
estudantes e ativistas. Logo no início do evento, Fernanda Garcia destacou que
o projeto defendido no seminário já foi apresentado por ela na Casa, mas foi considerado
inconstitucional por vício de iniciativa, por se tratar de uma prerrogativa
exclusiva do Executivo.
A intenção, portanto, é mobilizar a
sociedade civil organizada para que a prefeitura encampe o projeto, inspirado
na ação idealizada pela Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de
São Paulo, Dra. Fabíola Sucassas, que incentiva a criação da Prevenção da
Violência Doméstica com a Estratégia Saúde da Família (PVDESF) nos
municípios. “Nós sabemos que os agentes comunitários de saúde já aplicam,
na prática, este projeto, porém não é formalizado e não há nenhum tipo de
formação adequada”, afirmou.
Fernanda Garcia também citou dados do
Datafolha sobre violência contra a mulher que apontam que, no último ano, 4,6
milhões de brasileiras sofreram agressões físicas, sendo que 40% das agressões
aconteceram no próprio lar e menos da metade das mulheres procuraram ajuda. Já
a vereadora Iara Bernardi lembrou sua experiência como uma das idealizadoras da
Lei Maria da Penha e falou sobre as estruturas ativas no Município, dentro da
rede de apoio, como a Delegacia da Mulher 24 horas e o Cerem. “Com toda a
legislação que já fizemos, os números de violência e de feminicídio continuam
crescendo. Então que esse plenário hoje seja um plenário de resistência”,
disse.
Debates – A primeira mesa de debate, com o tema “A
Rede de Proteção à Mulher Vítima de Violência em Sorocaba”, contou com a
participação da delegada da Delegacia da Mulher de Sorocaba (DDM); Dra. Adriana
de Sousa Pinto; da coordenadora do Cerem em Sorocaba; Naiane Maira Da Silva
Brito; e da enfermeira Olívia Samersla, da prefeitura de Ubatuba.
A delegada Adriana,
defendeu que a DDM traga a rede de apoio e acolhimento para dentro da
delegacia, para dar suporte imediato às vítimas. Segundo a delegada, muitas
mulheres, após serem atendidas e registrar a violência, apesar do
encaminhamento, não dão prosseguimento junto à rede. De acordo com Adriana, o
Governo do Estado deve implantar um projeto para implantação de psicólogos e
assistentes sociais nas delegacias.
Disse também que é
importante o olhar de toda a comunidade em favor das mulheres vítimas de
violência. “A violência doméstica acontece muitas vezes no lar. É entre a
vítima e o agressor; você não tem testemunhas. É a palavra dela que tem que ter
mais valor. A gente tem que dar credibilidade à mulher. Esta é a postura que
nós adotamos”, afirmou.
Para
falar sobre o Centro de Referência da Mulher (Cerem), a coordenadora Naiane,
destacou que o centro, que oferece atendimento diário com uma equipe técnica
para mulheres vítimas de violência, trabalha com parceiros, como as secretarias
da Saúde e Assistência Social. Disse ainda que é preciso despir
os preconceitos para atender às mulheres de forma adequada. “No Cerem nós
dizemos que a Lei Maria da Penha está aí, mas quem dá vida a ela somos nós”,
destacou.
Naiane também
discorreu sobre o aplicativo do Botão de Pânico, lembrando que para ter acesso
ao instrumento a mulher precisa estar em medida protetiva. Desde sua
implantação no município, foram 552 instalações, com mais de 400 mulheres
ativas no momento, segundo ela.
Em seguida, a
enfermeira Olívia apresentou os resultados do programa “Prevenção da
Violência Doméstica com a Estratégia Saúde da Família”, implantado no Município
de Ubatuba em 2017. A representante ressaltou que o sucesso do PVDESF depende de
sua independência política para que tenha continuidade mesmo com mudanças no governo.
De acordo com a enfermeira, uma das ações mais importantes foi a criação do
Comitê de Vigilância às Violências (COMVIVI). O município litorâneo de 85 mil
habitantes conta atualmente com 152 agentes comunitários de saúde, que são
servidores concursados.
PVDESF – Para a segunda mesa de debates, a idealizadora do projeto em foco, Dra. Fabíola Sucasas, apresentou o Projeto Prevenção
da Violência Doméstica e Familiar Contra as Mulheres com a Estratégia de Saúde
da Família. Segundo a promotora de Justiça em São Paulo, o programa prevê a
implementação total da Lei Maria da Penha, com o atendimento integral da mulher
vítima da violência. “Quais oportunidades que nós damos às mulheres. A primeira
é ouvi-las e depois dar instrumentos para que ela efetivamente saia da situação
de violência”, iniciou.
Também ressaltou que o
projeto propõe que o agente comunitário de saúde seja uma ponte para o início
de um processo de enfrentamento à violência doméstica, que engloba, em seguida,
toda a rede protetiva, que deve articular instituições das áreas de segurança,
justiça, saúde e assistência social. O PVDESF também oferece uma cartilha.
Após o intervalo, foi
formada a terceira e última mesa de debates do seminário, com o tema: “A
Atuação da Equipe de Estratégia da Saúde da Família na Prevenção à Violência
Doméstica”. A agente comunitária Bruna Giórgia fez um comparativo da realidade
de Sorocaba com outras cidades que oferecem um adicional de insalubridadede de 40%
no salário dos profissionais. Destacou ainda que há defasagem de agentes em
Sorocaba e falta de equipamentos de EPI para a realização dos trabalhos. “São
várias questões relacionadas ao trabalho que precisam ser resolvidas”, disse a
agente, que ressaltou a necessidade de ampliação da cobertura para outros
bairros, como Laranjeiras e Mineirão, e a falta de previsão de abertura de
concursos para novas contratações.
Bruna afirmou que os
agentes comunitários atuam diariamente no combate à violência, e contam com o
apoio de outras estruturas de segurança, como a GCM e a DDM. “Quando a gente
não tem gabarito suficiente para atuar, a gente pede socorro”, explicou. Ela citou
que existem projetos, como o Renascer, realizado em parceria com o CRAS Vitória
Régia, que buscam incentivar o empreendedorismo das mulheres, com treinamentos
de como se portar em entrevistas e como preencher currículo para conseguir uma
vaga de emprego. “Estar empregada é uma das primeiras formas de combater a
violência, pois a mulher fica insegura de tomar uma atitude quando não tem
recursos financeiros para se sustentar e sustentar os filhos”, disse.
Em seguida, foi apresentado
um vídeo com depoimentos de agentes comunitários e integrantes do sistema
judiciário para destacar a importância da atuação dos profissionais nas
comunidades e do uso de uma cartilha orientadora sobre violência doméstica
elaborada pelo Ministério Público. Catarina dos Prazeres Jesus Santos, agente comunitária
do bairro Cidade Tiradentes, na cidade de São Paulo, falou sobre a importância
da publicação e de levar a transformação através de conhecimento e informações
para mais de 200 famílias mensalmente.
Ela compartilhou a
experiência no projeto desenvolvido em parceria com o Ministério Público de
capacitação para combater a violência doméstica e revelou que através do
programa pode entender que, ela mesma, foi vitima de abusos quando criança. “O
Brasil é quinto pais que mais mata mulheres e nós temos a capacidade de mudar
essa realidade”, lembrou.
Catarina também falou
da expansão do projeto para igrejas evangélicas, onde 40% das mulheres sofrem
violência de acordo com pesquisa do Mackenzie. A agente comunitária ainda relatou
experiências em que presenciou e interviu em situações de violência contra
mulheres e crianças. “Todos nós temos que combater a violência doméstica,
juntos somos capazes e podemos mudar essa realidade”, finalizou.
Para encerrar o Seminário,
houve rodada de perguntas e respostas entre os participantes e o público
presente no evento, com falas de profissionais de diversos setores da
sociedade, para compartilhar números, experiências, ações e propostas do
combate à violência doméstica em Sorocaba e da importante participação dos
agentes comunitários. A vereadora Fernanda Garcia reforçou a importância do
investimento público em ações de estratégia de saúde da família e como encaminhamento
final propôs a reunião dos órgãos participantes do evento para avaliar o
projeto e discutir melhorias e sugestões para poder ser encaminhado ao
Executivo, e também afirmou que vai direcionar
emendas impositivas para reforçar as ações dos agentes comunitários de saúde em
Sorocaba.