A iniciativa foi da vereadora Iara Bernardi (PT) e a audiência pública contou com a presença de vários líderes do movimento negro
Com o tema “Dia de Luta e da Consciência Negra”, em memória de Zumbi dos Palmares, a Câmara Municipal de Sorocaba realiza audiência pública na noite desta terça-feira, 19, por iniciativa da vereadora Iara Bernardi (PT). A vereadora Fernanda Garcia (PSOL) também participou da audiência, que conta com a presença de vários militantes do movimento negro que atuam em Sorocaba e região.
A mesa de honra – formada, excepcionalmente, como uma “frente de honra”, no mesmo nível do plenário – foi composta pelos seguintes líderes: Joana D’Arc, da Coordenadoria de Igualdade Racial; José Marcos de Oliveira, presidente do Conselho da Comunidade Negra; Pai Nivaldo e Leandro de Iemanjá, representante das religiões de matrizes africanas; Drika Martins, da Central Única das Favelas; Bruna Santos, do Setorial de Mulheres do Psol; o guarda civil municipal Anderson Carvalho, pesquisador sobre minorias e grupos vulneráveis do Centro de Estudos de Segurança e Direitos Humanos; e Paulo Henrique Soranz, secretário de Igualdade e Assistência Social. Também participaram do evento, entre outros: Sérgio Reze, da Associação Comercial de Sorocaba, e Edson Correia, da Família Camargo.
Tragédia na história – Iara Bernardi enfatizou que o dia 20 de Novembro é um momento de luta e reflexão, observando que a história dos povos africanos que vieram para o Brasil é uma tragédia, que faz parte da história do povo brasileiro. “O tráfico de escravos rendia mais do que o ouro, o pau-brasil e a cana-de-açúcar e essa tragédia nós temos que relembrar, não dá para esquecer. Isso precisa ficar marcado, através de atividades com esta”, enfatizou a vereadora.
Fernanda Garcia (PSOL) afirmou que o Dia da Consciência Negra materializa o quanto o racismo ainda se faz presente na sociedade brasileira. “O racismo ainda é naturalizado como sendo normal, através de uma série de práticas, e precisamos debater e desconstruir isso”, enfatizou a vereadora, enfatizando que o racismo institucional ainda é muito forte, uma vez que a sociedade brasileira foi construída sobre a escravidão e a desigualdade.
Religiões africanas – O professor e babalorixá Pai Nivaldo de Logunedé, que leciona na rede estadual de ensino, discorreu sobre as religiões de matrizes africanas no Brasil, observando que, como foram vários povos e etnias que vieram com a escravidão, também as religiões africanas são de múltiplas matrizes. “No Brasil, esses valores e costumes foram trocados entre esses povos, dando origem ao candomblé, que é uma organização genérica resultante de várias vertentes religiosas”, afirmou Pai Nivaldo, destacando as vertentes de origem banto, iorubá e geges.
Segundo Pai Nivaldo, o candomblé é uma religião iniciática: “As pessoas se retiram do mundo para serem preparadas e o valor maior é a sobrevivência da comunidade, por meio de uma relação familiar, preservando os valores ancestrais, transmitidos de geração a geração”. O babalorixá destacou que, além do aspecto especificamente religioso, também há o congraçamento e a ajuda mútua entre as pessoas, não só no templo religioso, mas na vida, no cotidiano.
A pedido de Iara Bernardi, Pai Nivaldo também discorreu sobre os orixás, mostrando as diferenças entre a umbanda, mais próxima do kardecismo, e o candomblé, que lida com a manifestação divina na natureza. “A maioria das pessoas não sabem que temos um Deus. Acreditam que somos politeístas. Mas nosso conceito de Deus é tão elevado, que entendemos que precisamos de intermediários para chegar até Ele”, observou, estabelecendo uma relação entre esses intermediários e os santos e anjos do catolicismo.
“Genocídio negro” – José Marcos de Oliveira, presidente do Conselho da Comunidade Negra, manifestou repúdio à atitude do deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) que, nesta terça-feira, 19, arrancou uma placa afixada num túnel da Câmara dos Deputados contra o chamado “genocídio da população negra”. No seu entender, houve avanços e conquistas do movimento negro, mas vive-se um momento de retrocesso. “É preciso escancarar o que está acontecendo, dando visibilidade a essas violências que estão ocorrendo”, afirmou, observando que faltam políticas públicas para a população negra.
O secretário Paulo Henrique Soranz, da Igualdade e Assistência Social, afirmou que é preciso lutar contra os estigmas que afetam os negros, a população de rua e outros segmentos sociais colocados à margem da sociedade. O secretário observou que está havendo, hoje, uma espécie de ativismo racista na sociedade, que precisa ser repudiado e combatido.
Anderson Carvalho, da Guarda Civil Municipal, disse que quando entrou na corporação, há quase 22 anos, chegou a escutar instrutores dizendo que, ao abordar o cidadão, era preciso abordar aquela “cor padrão”, isto é, o negro, mesmo havendo cerca de 20 negros como guardas civis municipais. “Hoje, houve uma grande evolução na Guarda Civil Municipal e ela tem uma grande preocupação com os direitos humanos, inclusive com uma formação voltada para o atendimento às minorias e grupos vulneráveis”, afirmou.
Joana D’Arc, da Coordenadoria da Igualdade Social, discorreu sobre a condição do negro na sociedade, em especial da mulher negra e do feminismo negro, antes de falar sobre as atividades que ocorrerão no Dia da Consciência Negra. A audiência pública está sendo transmitida pela TV Câmara (Canal 31.3; Canal 4 da NET e Canal 9 da Vivo) e poderá ser vista na íntegra no portal da Casa e em suas redes sociais.