07/05/2021 12h59
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A convite da vereadora Fernanda Garcia (PSOL), a artista plástica Flávia Aguilera discorreu sobre o trabalho do centro

O Centro de Memória Operária de Sorocaba, que como o próprio nome indica tem como objetivo resgatar a história dos operários que ajudaram a construir a cidade de Sorocaba, foi objeto do programa Manhã Câmara, da Rádio Câmara, na manhã desta sexta-feira, 7. O programa recebeu, de modo virtual, a vereadora Fernanda Garcia (PSOL) e a artista plástica Flávia Aguilera, que falaram a respeito da importância do resgate da memória operária na cidade, num bate-papo com Priscilla Radighieri e Marcelo Araújo, que apresentam o programa.

Celebrando o Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador, o Centro de Memória Operária organizou uma exposição virtual que traz imagens e recriações de imagens do movimento operário, além de recortes de jornais do início do século passado, mostrando passagens da luta e da vida operárias na cidade. A exposição pode ser vista no endereço: memoriaoperariasorocaba.com.br. 

Mostra virtual – Na exposição, há recorte do Jornal Ypanema, em sua edição de 21 de abril de 1874, que mostra um anúncio de escravos fugidos. Há também o relato de que, no Natal de 1809, escravos de Itu, Sorocaba, Porto Feliz e Campinas planejavam realizar um levante, que foi frustrado devido a denúncias. A mostra também traz o registro público mais antigo de uma celebração do Primeiro de Maio, que o Círculo Socialista Enrico Ferri realizou em 1904, com a participação da banda musical da cidade de Sarapuí.

Antes disso, em 1894, Sorocaba poderia ter sido precursora da celebração do Primeiro de Maio no Brasil, segundo pesquisas do historiador Carlos Cavalheiro, um dos responsáveis pelo Centro de Memória Operária de Sorocaba. Um relatório do chefe de polícia da época mostra que foram presos Alexandre Levy e Angelo Belcote sob a acusação de afixarem nas ruas boletins “sediciosos e anárquicos” que convidavam os operários de Sorocaba a realizarem manifestações socialistas no dia 1º de Maio.

Operariado forte – “Sorocaba tinha um movimento operário muito forte, era conhecida como a Moscou paulista”, observa Flávia Aguilera, lembrando que meio século depois dessa tentativa frustrada de celebrar o Primeiro de Maio, também acabou frustrada a eleição da primeira mulher para exercer mandato na Câmara Municipal de Sorocaba, uma vez que Salvadora Lopes, a primeira vereadora eleita da cidade, acabou sendo cassada junto com outros candidatos eleitos em 1947 e não tomou posse.

“Se Salvadora Lopes tivesse podido tomar posse naquela época, não tenho dúvida que a história seria outra e teríamos muito mais mulheres eleitas na Câmara de Sorocaba, assim como em outras instâncias da vida pública”, afirma Fernanda Garcia, observando que, ao longo de toda a história do Legislativo sorocabano, apenas oito mulheres foram eleitas.

Resgate da história – Fernanda Garcia enfatizou que a história das elites dominantes tende a ser contada com uma ênfase que supera a realidade do que realmente ocorreu, enquanto a história das camadas mais pobres da população, como os próprios operários, é esquecida. Para a vereadora, Sorocaba é também uma cidade de luta, que precisa ser mais conhecida. E cita como exemplo o livro João de Camargo: O Homem da Água Vermelha, de Carlos Cavalheiro, que resgata o papel de João de Camargo não somente como líder religioso, como costuma ser mostrado, mas também como líder político e social.

Flávia Aguilera também falou sobre a exposição que realizou no Sesc sobre mulheres operárias em Sorocaba, explicando seu trabalho de pesquisa histórica, não como historiadora profissional, mas para alicerçar sua produção artística. Um de seus interesses é o modo de vida das operárias, o que comiam, o que vestiam, entre outras vivências. A operária Dona Áurea, que trabalhou na Fábrica Santa Rosália e faleceu no ano passado, contou à artista plástica e pesquisadora, numa entrevista, que levava para a fábrica pão com manteiga e café, que colocava sobre a máquina para mantê-los quentes.

Mulheres e crianças – Fernanda Garcia lembrou das más condições de trabalho da época, em que as crianças trabalhavam nas fábricas, sofrendo acidentes nas máquinas, e muitas mulheres trabalhavam até o último minuto da gestação, chegando a parir dentro das fábricas. “É uma obrigação nossa resgatar essa história”, afirmou destacando que a partir da exposição e da criação do centro, esse resgate tende a ser intensificado.

Por fim, as debatedoras também defenderam investimentos em cultura, devido à carência de recursos do setor, e Fernanda Garcia foi enfática ao defender a participação da sociedade e a organização dos artistas para aprofundar essa discussão sobre a cultura. “A arte é essencial, como temos visto neste tempo de pandemia, em que muitos eventos artísticos e culturais estão sendo organizados e significam um alento para as pessoas”, enfatizou.