O psicólogo Fabrício Lima explicou a importância da saúde mental, superando o estigma que afeta as pessoas que sofrem com doenças mentais
Partindo da premissa de que há um estigma acerca da saúde mental e que as pessoas que sofrem com algum transtorno mental têm vergonha de discutir o assunto, o psicólogo Fabrício Lima participou do programa “Plenário Educação”, da Escola do Legislativo, em parceria com a TV Câmara, na tarde de quinta-feira, 17, quando discorreu sobre o tema, analisando suas diversas vertentes, que vão das questões clínicas até as sociais. Entrevistado pelo cerimonialista e apresentador Paulo Marquez, Lima participou do programa diretamente da cidade de Montreal, no Canadá, onde trabalha atualmente.
Para Fabrício Lima, a saúde mental é um conceito complexo, que envolve não apenas os aspectos clínicos dos transtornos mentais, mas também questões relativas ao bem-estar do indivíduo, permeadas por variáveis como idade, cultura, etnia, gênero, classe social, entre outras. Baseando-se em autores da psicologia, Lima observou que é preciso expressar os sentimentos, através de um processo que se inicia pelo reconhecimento e entendimento do sentimento até chegar à possibilidade de sua modulação. Caso isso não seja possível, segundo ele, a probabilidade de o indivíduo sofrer é alta.
Efeitos da pandemia – O psicólogo apresentou alguns números sobre a saúde mental no Brasil, que, segundo ele, são alarmantes, e observou que o Brasil, ao contrário de países como Canadá e Nova Zelândia, ainda enfrenta questões básicas de sobrevivência, como saneamento básico, transporte público e falta de leitos nos hospitais, agravadas durante o período de pandemia. Lima observou que as pessoas vulneráveis ficaram ainda mais vulneráveis durante a pandemia, especialmente num país como o Brasil, o que aumenta a possibilidade de gatilhos que abalam a saúde mental.
O psicólogo afirmou que nenhum país do mundo estava preparado para enfrentar a pandemia e observou que o tempo de resposta de cada país e de cada empresa ou instituição foi diferente. Segundo ele, houve casos em que empresas maiores, com milhares de funcionários, tiveram mais dificuldade de enfrentar a pandemia do que empresas menores com menos de dez funcionários. E citou o exemplo da empresa Bombardier, do Canadá, que sofreu um forte impacto da pandemia e, ao contrário de pequenas empresas, não tem como mudar de negócio para se adaptar aos novos tempos.
Mundo do trabalho – Especializado em psicologia organizacional, Fabrício Lima também discorreu sobre a saúde mental no mundo do trabalho e deixou claro que, dentro das organizações, sejam elas públicas ou privadas, as pessoas são fundamentais. “As organizações sofrem da incapacidade de se comunicar e não são claras nos seus objetivos”, afirmou, observando que, antes de oferecer, por exemplo, ginastica laboral para seus funcionários, a empresa precisa pensar em sua própria estrutura. “O que as empresas normalmente fazem é um cuidado paliativo”, disse, ressaltando que as organizações precisam também discutir o respeito, a civilidade, o desenvolvimento, o suporte psicológico, o suporte social.
Como exemplo, Fabrício Lima citou o caso de uma faxineira da empresa em que trabalhava em Brasília, que morava na cidade goiana de Águas Lindas e tinha que acordar todo dia às três horas da manhã e saía de casa às quatro horas para chegar ao trabalho às seis, mas ia dormir meia-noite, pois havia conseguido uma bolsa universitária e estudava no período noturno.
“Quando se fala de saúde mental, se fala disso. Não dá para chegar nessa funcionária e dizer para ela: ‘Você não tem tempo de fazer ioga, de participar de um grupo de caminhada’? No caso dela, a empresa estava lhe dando um suporte para o futuro ao oferecer uma bolsa para que ela pudesse estudar e fazer um curso superior”, observa, enfatizando que a esperança em superar as dificuldades é fundamental, pois, muitas vezes, os problemas de saúde mental decorrem da desesperança.
Fabrício Lima defende que as empresas aprendam a ouvir os seus funcionários, inclusive para evitar adoecimentos. “Para termos funcionários saudáveis, precisamos nos preocupar com as pessoas”, enfatizou, observando que as organizações, públicas ou privadas, pequenas ou grandes, precisam criar um ambiente em que as pessoas sejam ouvidas e compreendidas e não se sintam meros números ou ferramentas.