27/07/2021 15h41
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Realizada por iniciativa da vereadora Fernanda Garcia (PSOL), a semana contou com a participação de mulheres negras de várias áreas

Encerrando às celebrações do Dia da Mulher Negra, comemorado anualmente em 25 de julho, a Câmara Municipal de Sorocaba realizou a “Semana da Mulher Negra, Latina e Caribenha”, com uma sequência de rodas de conversas sobre o tema, envolvendo militantes negras de diferentes áreas. Entre as discussões em pauta, foi dedicada uma roda de conversa sobre o tema da cultura, que estava programado para a quinta-feira da semana passada, mas, devido à sessão extraordinária da Casa, foi realizada na segunda-feira, 26. 

A iniciativa da semana foi da vereadora Fernanda Garcia (PSOL), autora Lei 11.812/2018, que instituiu a data em Sorocaba. Nacionalmente, a Lei Federal 12.987 2014 criou o “Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra”, também comemorado em 25 de julho. A assessora parlamentar Bruna Santos, chefe de gabinete da vereadora, destacou a importância dos debates realizados ao longo da semana, através da TV Câmara, por contribuírem, segundo ela, “para realizar o recorte racial e de gênero nos assuntos abordados” e externou o propósito da vereadora Fernanda Garcia de realizar outros debates do gênero durante o ano.

Além de Bruna Santos, a roda de conversas sobre cultura contou com a participação das seguintes mulheres: Lourdes Liege, coordenadora do Movimento Negro Unificado em Sorocaba, que foi a mediadora da conversa; a atriz Clarice Santos; e a cantora e designer de moda Laís Moura. Lourdes Liege destacou o mandato da vereadora Fernanda Garcia (PSOL), o Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra e o Conselho Municipal da Mulher pela realização da semana e lembrou a luta de Tereza de Benguela, líder de quilombo no interior do Mato Grosso, no século XVIII, que inspirou a data.

Integrante do Grupo Trança de Teatro, de Sorocaba, Clarice Santos declamou o poema “Sou Negro”, do poeta, ator e artista plástico Solano Trindade (1908-1974), que nasceu em Recife e radicou-se no Rio de Janeiro na década de 40, tendo publicado livros de poesia, entre eles, Cantares do Meu Povo (1961). Para a atriz, a arte foi uma descoberta de si mesma e da história das mulheres guerreiras que vieram antes dela. “Sou duas Clarices: antes da arte e depois da arte”, frisou, ressaltando a inquietação que a arte provoca e enfatizando que, na sua vida e no seu trabalho como empregada doméstica, procura ser “a voz de muitas meninas pretas”. Para ela, a arte leva ao autoconhecimento e fortalece a mulher negra.

Clarice Santos também discorreu sobre seu trabalho teatral e conta que, quando começou a fazer teatro, achava que não poderia dar voz aos dramas das mulheres negras, como a violência doméstica, mas, hoje, consegue dar voz a essas mulheres. “Graças a Deus, nunca sofri nenhum tipo de violência, mas, através da minha arte, consigo dar voz a essas mulheres para que elas possam expressar e denunciar o que está acontecendo”, afirma. “Uma peça sobre violência é muito dolorida e reforça a certeza de que nós, mulheres, não nascemos para sofrer nenhum tipo de violência, seja física ou psicológica, e merecemos ser tratadas com todo respeito”, disse, destacando o papel da arte de fazer essa denúncia.

A cantora e designer de moda Laís Moura, que é vocalista de um grupo de samba, a Banda Saravá, contou que, através da música, descobriu muito de si. E lembrou que, ao falar de música, é impossível não falar dos negros, que estão na origem de muitos ritmos, como o blue, o soul, o rock, o samba. “A mãe do rock é preta”, afirmou, acrescentando que a negritude está presente em sua arte. Também disse que a moda foi fundamental para sua conexão com sua ancestralidade negra, “que é muito rica na questão da moda”. A cantora também cantou, ao piano, a música Flores Horizontais, de José Miguel Wisnik sobre o poema Oração do Mangue, de Oswald de Andrade, que integra o repertório de Elza Soares, e a música Cordeiro de Nanã, do repertório do grupo Os Tincoãs, que ela conta ter conhecido através da cantora Thalma de Freitas e com que encerrou a roda de conversa.

Todos as rodas de conversas da Semana da Mulher Negra, Latina e Caribenha estão disponíveis no portal da Câmara Municipal de Sorocaba e através de suas redes sociais.