O programa Resenha Política, exibido na manhã desta quarta-feira (4) pela Rádio e TV Câmara, recebeu o comunicador Daniel Parra Malachias, diretor da RTV Digital Films, para falar da experiência de atuar na produção de uma campanha eleitoral internacional. O convidado contou sobre as particularidades de trabalhar este ano na criação de conteúdo para uma candidata nas eleições para presidente de São Tomé e Príncipe, país do continente africano.
Bacharel em Comunicação Social com habilitação em rádio e especialização em produção de comerciais e programas de televisão, Daniel realiza trabalhos publicitários comerciais e campanhas eleitorais em várias localidades do Brasil, incluindo Sorocaba. E foi de parceiros de uma campanha na cidade de São José dos Campos, em 2020, que recebeu o convite para atuar na África. "Operamos duas frentes, uma no Brasil e outra na África", contou o profissional, detalhando que quatro pessoas da equipe trabalharam diretamente no exterior, enquanto outra parte ficou no país para tarefas de produção, finalização e computação gráfica. Ele elencou que o trabalho envolveu produções para TV, rádio e redes sociais.
Sobre a experiência em São Tome e Príncipe, Daniel explicou que foi um choque de realidade, pois o país africano tem uma democracia recente, por ter apenas 50 anos de independência. Ele afirmou que ficou chocado com a questão do machismo ainda é muito presente. "Fizemos a campanha de uma candidata mulher, a Dra. Maria das Neves, uma reconhecida líder, doutora em economia, super capacitada, mas ainda assim muitas pessoas tem dificuldade de entender nela essa liderança pela questão do machismo. Existe o discurso de muitos homens que mulheres não podem ter direitos iguais", disse.Daniel explicou que no país africano as eleições, que foram realizada em 18 de julho, foram realizadas com voto impresso manual e que com grandes possibilidades de terem ocorridos fraudes. Segundo ele, existem denúncias de votos que sumiram e de pessoas que tiveram o voto comprado no momento da votação. "A gente, no Brasil, vive uma eleição mais madura, embora com a discussão de voto impresso, enquanto lá não, a questão política ainda engatinhando. Agora haverá a segunda volta, como eles chamam o segundo turno, e ainda tem uma discussão enorme pois o terceiro colocado pede recontagem de votos e ainda não tem data para acontecer. É um cenário de caos para a gente que esta habituado a viver na regra", resumiu o comunicador.
Segundo Daniel, em São Tomé, Daniel as eleições ocorrem a cada cinco anos, e os dois candidato mais votados avançam para o segundo turno. Lá, porém, o órgão que determina e fiscaliza as regras eleitorais é pouco atuante. "A gente está acostumado a seguir a regra, aqui tem o advogado que na hora vê uma coisa errada e entra com pedido de respostas. Lá não tem isso", conta. Outra dificuldade enfrentada foi a falta de debates entre os candidatos. "Houve uma tentativa, mas no momento do debate acabou a energia no país, com fortes indícios de que foi proposital. Falta discussão política. O debate, dependendo do grau você consegue votos pela ideias apresentadas, mas lá não tem nem essa possibilidade, é mais uma diferença da forma de fazer campanha".
Sobre a cultura local, Daniel contou que o idioma principal é o português de Portugal, mas também o criolo e outras duas línguas locais. Segundo ele, isso foi um problema em relação à produção de jingles para a campanha , que foram feitos em uma das línguas locais, que não era possível para um brasileiro entender. "Tivemos um membro da equipe específico para esse trabalho. Foi um pouco difícil até nas redes sociais, pois primeiro era preciso escrever em português e depois trocar para a língua local". Daniel explicou que a candidata adotou a língua portuguesa como oficial, mas que no meio dos discurso era comum passar para o dialeto especifico do local. "Tivemos que vencer essa barreira".
Durante a entrevista, foi exibido um dos vídeos produzidos para a campanha eleitoral em São Tomé e Príncipe, que contou com 19 candidatos no total, com tempo igual de exibição de propaganda na TV. Daniel contou que a candidata para a qual trabalhou terminou na quinta colocação, mas que há indícios de fraude, visto que as pesquisas até a véspera da votação apontavam a candidata na segunda colocação. "A gente fica um pouco frustrado, claro, pois tinha grande possibilidade de vencer essa eleição", lamentou Daniel, ressaltado a cultura de compra de votos e apoio no país, com distribuição de dinheiro em comícios. "Pessoas são compradas literalmente e não percebem o quanto isso é grave. Os próprios candidatos ficam na duvida sobre o resultado das eleições", lamentou.
Ao final da experiência, Daniel contou que foi um grande aprendizado. "Pra mim foi uma grande surpresa e bom para aprender outra forma de estratégia política, de militância, de base, de organização, que a gente já tem a nosso conhecimento aqui, mas traz outra bagagem também".