Por iniciativa do vereador, o professor José Otávio Motta Pompeu e Silva, doutor em Artes e pesquisador em tecnologia assistiva, participou do program
A prática do “bullying”, que se caracteriza por atos sistemáticos de violência física ou psicológica e a conscientização sobre o autismo, foi tema do programa “Câmara Convida”, da TV Câmara, por iniciativa do vereador Rodrigo do Treviso (União Brasil). O programa contou com o professor José Otávio Motta Pompeu e Silva, graduado em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (1999), com mestrado em Artes pela Universidade Estadual de Campinas (2006) e doutorado em Artes pela Universidade Estadual de Campinas (2011).
Atualmente, Jose Otávio Motta, que participou do programa a partir da cidade de Porto Feliz, é coordenador do Núcleo de Tecnologia Assistiva Emocional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e trabalha em projetos de tecnologia assistiva e neurociência aplicada em cooperação com a Universidade de Ciências Aplicadas de Turku, na Finlândia. Além de tecnologia assistiva, o professor também tem experiência nas áreas de cultura digital, acessibilidade, neurociência, reabilitação e arte.
Conforme seu currículo Lattes, José Otávio Motta também realiza cooperação técnica com o Instituto Federal de São Paulo, Campus Sorocaba, onde desenvolve o protótipo de carro elétrico adaptado para pessoas com deficiência e criação de Inteligência Artificial Aplicada. Apresenta ‘lives’ de divulgação científica no YouTube pelo Espaço Alexandria da Universidade Federal do Rio de Janeiro e foi especialista do tema educação e pessoas com deficiência na Conferência dos Direitos das Pessoas com Deficiência na Organização das Nações Unidas em Nova York em 2017.
Campanhas necessárias – Para o professor José Otávio Motta, o bullying está ligado diretamente com a violência: “Eu fui morar na Finlândia, onde fiz pesquisa, e vi esse tema sendo debatido na televisão pelo próprio presidente do país, que estava dando uma aula numa escola para lançar uma campanha nacional contra o ‘bullying’. Normalmente, o ‘bullying’ se caracteriza como uma rejeição num determinado grupo. Crianças com autismo, por exemplo, muitas vezes enfrentam esse tipo de rejeição”, observa.
O vereador Rodrigo do Treviso falou de seu convívio com diversas famílias que possuem crianças com autismo, com deficiência, e que, muitas vezes, enfrentam rejeição. “Muitas vezes uma criança de sete, oito anos, rejeita e discrimina a outra de forma inocente, sem saber direito o que está ocorrendo. Por isso, é fundamental trazer esse assunto à tona para se tomar consciência dos problemas que ele pode acarretar”, conta.
Mas o vereador observa que, hoje, a sensibilidade das pessoas mudou e muitas crianças, adolescentes e jovens ficam profundamente abalados com esse tipo de brincadeira nas escolas e até no trabalho. “Por isso, precisamos discutir o ‘bullying’ para evitar que ele possa se intensificar e ter consequências mais sérias”, afirma Rodrigo do Treviso.
José Otávio Motta concorda com o parlamentar e conta que chegou a falar sobre o ‘bullying’ em um evento da ONU, explicando que a linha que separa uma simples brincadeira e o ‘bullying’ muitas vezes é tênue. Mas ele observa que o afeto é uma forma de diferenciar uma coisa da outra: quando um apelido, por exemplo, é utilizado com afeto e com a aceitação de quem assim é chamado, não é ‘bullying’ – que se caracteriza, segundo ele, pela intenção de rejeitar o outro.
“Intimidação sistemática” – No Brasil, a Lei 13.185, de 6 de novembro de 2015, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), define o ‘bullying’ como “todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas”.
O professor destacou que, para o combate a esse tipo de prática, é preciso criar um ambiente escolar propício ao respeito mútuo, citando como exemplo a Finlândia, em que o professor é muito respeitado e valorizado, inclusive financeiramente, com um salário superior ao de outras categorias profissionais. Rodrigo do Treviso também enfatizou a importância de valorizar os professores, como profissionais, e também as escolas, inclusive as escolas que atendem crianças com deficiência. O vereador destacou que o professor é uma das figuras essenciais, além dos pais, para identificar uma situação de ‘bullying’.
Autismo em pauta – O autismo também foi discutido durante o programa. O professor José Otávio Motta contou que foi diagnosticado como autista há seis anos, aos 40 anos de idade, uma vez que, quando nasceu, em 1976, somente os casos graves, em que o indivíduo apresenta dificuldades na fala, eram considerados autismo. Hoje, conforme explicou, houve uma mudança na forma de diagnóstico e há outros graus de autismo, mais leves. Mesmo assim, ele enfatiza que é preciso trabalhar a inclusão dos autistas no ambiente escolar, assim como das pessoas com deficiência. O professor também defendeu a implantação de programas de “justiça restaurativa” nas escolas para enfrentar os casos de ‘bullying’ e violência.
O vereador Rodrigo do Treviso, ao longo do programa, também propôs uma serie de questões sobre os temas tratados, que mereceram reflexões por parte do professor José Otávio Motta. Por fim, atendendo sugestão do professor, o vereador antecipou que irá realizar uma audiência pública em 26 de agosto para tratar do ‘bullying’ e da violência nas escolas. A entrevista está disponível nas redes sociais do Legislativo sorocabano.