Iniciativa da vereadora Fernanda Garcia contou com participação de autoridades e representantes da comunidade LGBTQIA+
Foi realizada no plenário da Câmara de Sorocaba na tarde desta quinta-feira, 26, por iniciativa da vereadora Fernanda Garcia (PSOL), uma reunião aberta que teve como tema “O processo transexualizador na rede de saúde pública”. O evento ocorreu em sequência às atividades do “Dia de Combate à LGBTfobia”, instituído em âmbito municipal pela Lei 11.541/2017, de autoria da parlamentar.
Além da vereadora proponente, compuseram a mesa de trabalhos da reunião o vereador Djalma Nery, de São Carlos; Gustavo Henrique, presidente do Conselho Municipal da Diversidade Sexual de São Carlos; Thara Wells Corrêa, presidente da Associação de Transgêneros de Sorocaba e integrante do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher; Vivian Machado, coordenadora de políticas para a diversidade sexual da Prefeitura de Sorocaba; e Augusta Neves, diretora administrativa da Associação de Transgêneros de Sorocaba (ATS).
Iniciativas de referência – Iniciando o debate, foi apresentada em participação virtual a experiência da iniciativa realizada em São Miguel Arcanjo chamada Casa Gensex. Amália Carvalho, responsável técnica da entidade, e Luciana Vieira, enfermeira atuante na Casa Gensex, explicaram que a ideia é oferecer atendimento mais amplo à comunidade LGBTQIA+. “O projeto não se baseia simplesmente em prescrever hormônio para a população transgênero. Pensamos em atender essas pessoas integralmente nas suas demandas, tanto em saúde, como sociais quanto psíquicas”, afirmou Amália Carvalho.
Em seguida, o vereador Djalma Nery, de São Carlos, destacou a importância da discussão do tema, afirmando que há 13 anos o Brasil é o país que mais mata a população trans no mundo. O parlamentar contou que em São Carlos foi conquistada a implementação, junto ao Hospital Universitário, o Centro de Saúde Integrado da Mulher, no qual existe um ambulatório de sexualidade para atender a demanda da comunidade LGBTQIA+, com processos de hormonização.
Gustavo Henrique, presidente do conselho municipal da diversidade sexual de São Carlos discorreu sobre a importância do órgão para elaborar, acompanhar, monitorar e fiscalizar as políticas públicas e assegurar o pleno exercício da cidadania da população trans.
Situação em Sorocaba – Discorrendo sobre as condições de atendimento na cidade, Augusta Neves, diretora administrativa da ATS afirmou que “falta vontade política para implementar um atendimento amplo que contemple toda a população e não deixe ninguém à margem por motivo algum”. Segundo ela, há uma fila de espera de mais de dez anos para a cirurgia que demarca o fim do processo transexualizador. Neves criticou também a maneira como a comunidade é recebida nas unidades de saúde. “Em Sorocaba, quando as pessoas trans entram no sistema público de saúde, não conseguem nenhum tipo de atendimento adequado”.
Em seguida, Vivian Machado, coordenadora de políticas para a diversidade sexual da Prefeitura de Sorocaba, disse que houve iniciativas do Poder Público na área, mas que foram descontinuadas. “A gente propôs várias formações para os gestores, supervisores, coordenadores de UBSs, alguns profissionais foram remetidos para São Paulo, para ter formação”, contou. “Muita coisa parou em função da pandemia, o que é justificável, mas não voltou. O colegiado do conselho levou para o Ministério Público esse problema bem grave na cidade. A Secretaria da Saúde respondeu que iria dar continuidade e desenhou um fluxo para garantir o mínimo de cuidados, e estamos nessa expectativa”, concluiu.
Por fim, Thara Wells Corrêa, presidente da Associação de Transgêneros de Sorocaba e integrante do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, salientou o prejuízo de não haver atendimento adequado no sistema público de saúde. “O sistema não provê atendimento institucionalizado, mas depois precisa arcar com custo maior causado pelos problemas da auto-hormonização”. Wells afirmou também que falta interesse para garantir os cuidados das pessoas trans em Sorocaba. “Temos relatos de pessoas trans que agonizam dentro de casa, mas não procuram o sistema de saúde, porque sabem que lá vai ser um espaço de extrema violência”, concluiu.