Debate realizado por iniciativa da vereadora Jussara Fernandes envolveu autoridades, especialistas, representantes de entidades e da sociedade civil
A Câmara Municipal de Sorocaba sediou na noite de quarta-feira, 9, a audiência pública “Rodeios: Por que proibir?”, por iniciativa da vereadora Jussara Fernandes (Republicanos), presidente da Comissão de Bem-Estar e Proteção Animal da Casa. O encontro reuniu especialistas em direito ambiental e bem-estar animal, ativistas e vereadores, com o objetivo de discutir os impactos éticos e legais dos rodeios e a possibilidade de proibição definitiva desse tipo de evento no município.
A mesa principal contou com a presença de renomados defensores dos direitos animais, incluindo a Dra. Maira Velez, advogada e pesquisadora do Direito Ambiental na Universidade de São Paulo; Dra. Angélica Soares, especialista em Direito Animal e ex-presidente da Comissão do Meio Ambiente da OAB Campinas; Vânia Plaza, médica veterinária especialista em bem-estar animal e diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal; Flávio Lamas, jornalista e presidente da Associação Amigos dos Animais de Campinas; e Silvana Andrade, jornalista e fundadora da Anda (Agência de Notícias de Direitos Animais). Também participaram os vereadores Henri Arida (MDB), Rodolfo Ganem (Podemos) e Toninho Corredor (Agir).
Jussara Fernandes abriu a audiência relembrando sua trajetória de 19 anos no ativismo em defesa dos animais e destacou que, logo no início de seu mandato, apresentou um projeto de lei para proibir a realização de rodeios em Sorocaba, mesmo com questionamentos sobre a existência desses eventos na cidade. Segundo ela, Sorocaba teve os rodeios proibidos por 13 anos, até que uma lei aprovada em 2021 tentou regulamentar a prática, mas acabou sendo judicializada por ação do Ministério Público. “O rodeio não acontece porque está proibido judicialmente, mas precisamos de uma lei municipal para garantir essa proibição definitiva”, afirmou.
A vereadora também rebateu o argumento cultural, afirmando que o rodeio está mais ligado ao entretenimento comercial do que à preservação de valores rurais. “Muitas pessoas confundem o rodeio com os shows. O que atrai o público são os artistas, não os animais pulando na arena”, explicou.
Por fim, citou cidades brasileiras que já proibiram rodeios, como Campinas, Araraquara, Guarulhos, Mogi das Cruzes, Osasco, São Paulo, Rio de Janeiro, Taubaté, Itapetininga e Belo Horizonte, e afirmou que Sorocaba pode seguir o mesmo caminho. “A cidade cresce, atrai investimentos e é referência nacional sem precisar de rodeios. A crueldade não pode ser aceita como forma de lazer”, concluiu.
O vereador Toninho Corredor manifestou apoio à proibição dos rodeios e afirmou que, embora não se considere um ativista engajado, desenvolveu profundo respeito pela vida animal após experiências pessoais com protetores da causa. Destacou que Sorocaba é uma cidade de tradição tropeira, mas que valorizar essa cultura não significa aceitar práticas que causam sofrimento aos animais. Para ele, a volta dos rodeios representa um retrocesso, e cuidar bem, como fazem criadores responsáveis, é diferente de explorar. Toninho reafirmou seu compromisso com a proteção animal e declarou apoio ao projeto de lei da vereadora Jussara Fernandes.
O vereador Henri Arida afirmou que, como professor de teologia, considera que toda forma de vida deve ser protegida, pois a vida é um dom de Deus. Destacou que, embora reconheça o amor aos animais dos dois lados do debate, o rodeio envolve crueldade, e a crueldade, por sua natureza, é imoral e inaceitável. Ele defendeu a sacralidade da vida e declarou apoio à proibição dos rodeios em Sorocaba, comprometendo-se a trabalhar nesse sentido.
A médica veterinária Vânia Plaza apresentou dados de 20 perícias técnicas realizadas pelo Ministério Público de Minas Gerais entre 2017 e 2024, que apontaram condições inadequadas de nutrição, ambiente e comportamento animal na maioria dos eventos analisados. Segundo os dados apresentados, em 75% dos casos, os animais apresentavam lesões; em 85%, foram expostos a estresse intenso com som alto e fogos de artifício. “É uma atividade que fere todos os princípios de bem-estar animal. Não é cultura, é exploração”, afirmou.
Silvana Andrade destacou que rodeios não fazem parte da cultura brasileira autêntica. “É tão brasileiro quanto o Halloween. O que vemos é a tentativa de transformar crueldade em tradição por interesses econômicos”, criticou. Já Flávio Lamas relatou casos de maus-tratos a cavalos usados em romarias e passeios turísticos, defendendo maior fiscalização e políticas públicas para grandes animais.
Jader Leão, tropeiro e proprietário da Companhia de Rodeio Sorocabana, defendeu a prática afirmando que não há maus-tratos nos rodeios. Segundo ele, um animal com dor não pula, o que comprovaria que os cavalos e bois usados estão em boas condições. Relatou um caso em que um cavalo seu teve baixo desempenho por conta de dor de dente e reforçou que, ao detectar qualquer problema, busca atendimento veterinário imediato. Jader também explicou que o sedém – equipamento usado nas provas – é feito de lã de carneiro e fica longe dos testículos dos animais. Declarou amor e cuidado pelos cavalos sob sua responsabilidade e afirmou que há rigorosa fiscalização nos eventos. Por fim, defendeu o rodeio como parte da cultura brasileira e disse que ele tem o poder de inspirar crianças e manter tradições vivas, em contraste com outros tipos de entretenimento, como o “baile funk”.
Ao final do encontro, Jussara Fernandes afirmou que Sorocaba tem perfil urbano e moderno, e que os rodeios não condizem com a realidade local, manifestando confiança na aprovação de seu projeto de lei e a proibição definitiva dos rodeios na cidade.
A audiência pública foi transmitida ao vivo pela TV Câmara Sorocaba e pelas redes sociais do Legislativo (Facebook e YouTube), onde permanece disponível na íntegra.